O Teofilotonense Luciano Alberto de Castro, radicado em Goiânia – dentista e professor universitário, vai lançar seu primeiro livro de crônicas – “Os óculos do poeta e outras crônicas de circunstância”, produzido pela Kotter Editorial, em Teófilo Otoni, durante solenidade na noite desta quinta-feira (23/5), às 19h, no espaço Don Juarez Cervejaria, à Rua Capitão Leonardo, 188, Bairro Grão Pará. A coletânea de 50 crônicas, 35 já publicadas em jornais e revistas e 15 inéditas, marca a estreia na literatura de Luciano Castro. Ele concedeu entrevista ao Diário Tribuna, contando um pouco da sua vocação como escritor, da sua infância nesta região do Vale do Mucuri, e dos projetos atuais que está trabalhando. E Luciano participou com duas crônicas no concurso “Prêmio Ruth Guimarães de Crônicas” da União Brasileira de Escritores, e uma foi contemplada entre vinte que vão compor um livro produzido pela UBE.
DIÁRIO TRIBUNA – Como você desenvolveu a vocação de escritor?
LUCIANO ALBERTO DE CASTRO – Eu acredito muito que essas habilidades, ou afinidades, são características inatas de cada pessoa. Acredito que a criança nasce mesmo sem uma influência do meio dos pais, das pessoas que a rodeiam. Ela traz características inatas no nascimento, afinidades e habilidades, embora essas características do meio também influenciam, naturalmente. Essa vocação, habilidade de escrever já existia em mim. Tanto eu acredito que isso é verdade, porque eu tenho expressões de escrita muito precoces. Quando eu fazia ainda o segundo ano primário, aos 8 anos de idade, a redação que eu escrevi foi lida para várias outras turmas, foi escolhida como um exemplo de redação um pouco melhor do que a maioria dos outros alunos. Eu nasci em Ataléia, mas me mudei para o distrito de Pedro Versiani, em Teófilo Otoni, com 1 ano de idade. Cresci nesse distrito, a 26 Km de Teófilo Otoni, até uns 10 anos, onde estudei. Eu ainda acredito que eu tenha alguma potencialidade literária inata, desde sempre. Isso se manifestou mais pra frente, o desejo de escrever poesia com meus 17 anos, depois escrever letra de músicas. Mas a literatura mais estabelecida, veio bem mais tardiamente. Comecei a fazer faculdade de odontologia, isso ficou adormecido, depois retornou mais recentemente.
DT – Qual é o papel da leitura na criação das suas obras?
LAC – Eu diria que é o papel central. Toda escrita é filha da leitura. O escritor antes de tudo é leitor, e o que você produz de literatura vem, principalmente, de suas influências literárias, e de sua experiência de vida, sua maneira de ver o mundo. Mas, a produção literária em si, a maneira com a qual você escreve, produz seu texto, tem muito a ver com o que você lê. Eu sou o produto das minhas leituras, que são muitas. De maneira perceptível ou não, o que você escrever está muito impregnado do que a gente lê. Isso é normal. Dante Milano costumava dizer, que não existe nada original, que os grandes temas da vida não são originais. Alguém já escreveu, alguém já falou, você sofre influência. Eu sofro influência de Machado de Assis, de Rubem Braga, Carlos Drumont de Andrade, de Paulo Mendes Campos, de Otto Lara Resende, de tantos autores de proza, de poesia. Eu acho que a leitura da poesia é imprescindível para qualquer tipo de produção literária, ainda que você não faça poesia, que você não seja poeta. Mesmo que você seja prosador, penso que a leitura de poesia é essencial para qualquer escritor. Ela oxigena o escritor, dá ritmo para a própria prosa, e muitas vezes a gente vê nessas grandes áreas da literatura, se misturando muito. Por exemplo, a gente vê muita poesia na prosa de Drumond, de Rubem Braga, e ao contrário também. E a leitura na criação da minha obra, tem um papel crucial, eu tenho consciência disso. Nada que você produz é novo, normalmente alguém já produziu algo parecido, mas tentamos ter algum timbre, alguma característica própria. Eu tenho uma dificuldade de analisar minha própria obra, mas percebo uma influência de algum autor, aqui ou ali. Nesse meu livro – Os óculos do poeta, o prefácio foi da professora de Literatura da Universidade Federal de Goiás, Solange Fiúza, e ela faz conexões do meu texto com outras referências literárias, que eu nem tinha percebido. O primeiro passo do escritor é se tornar um grande leitor.
DT – Como você definiria o seu projeto literário?
LAC – Eu tenho um projeto literário que entendo como um projeto múltiplo. Entendo que eu tenho múltiplas habilidades para a escrita. Eu escrevo textos em prosa, e poesia dentro do texto em prosa eu escrevo crônicas. Já participei de outras coletâneas, mas esse é o meu primeiro livro solo, de crônicas. A crônica está ali no limiar o jornalismo e o ensaio, hora é mais jornalística, hora é mais histórica, hora é mais ensaística, é mais poética… A crônica tem várias facetas, mas é um texto de opinião pessoal. Eu também gosto de trabalhar com ficção. Já tenho alguns contos publicados, tenho a intenção de trabalhar com um futuro livro de contos mais curtos, e futuramente com romances. São passos que o escritor vai dando de acordo com suas habilidades e suas afinidades. Eu também leio tudo isso, e o meu próximo livro será de poesias. Serão 60 poemas, ainda não tem editora. O primeiro livro foi de crônicas, o segundo será de poesias, o terceiro talvez seja misto, um pouco de crônicas, um pouco de ensaio, e eu penso já para frente. Caminhando passo a passo. Esse é o projeto que vislumbro na minha carreira literária, trabalhar com essas várias vertentes da escrita.
DT – Você saiu de Teófilo Otoni muito jovem, mas, no seu livro “Os óculos do poeta” podemos encontrar várias referências à cidade. Qual a importância das suas vivências enquanto criança e adolescente na sua produção literária?
LAC – Realmente, eu saí de Teófilo Otoni com 17 anos para estudar em Goiânia e não mais voltei. Mas, o período da infância e adolescência tem uma força muito grande na construção do caráter, da personalidade de qualquer pessoa. O escritor carrega essa força, essa influência que a infância e a adolescência têm na sua vida. Isso reflete na obra que você escreve. Nesse livro que estou lançando agora, de crônicas, é de ficção, em que o autor fala muito de si, naturalmente tem muito das minhas vivências, principalmente enquanto adolescente em Teófilo Otoni. Porque são experiências pessoais que são relatadas, lembranças que ficaram da infância que são muito fortes. Quando a pessoa se torna escritor, isso vai aparecendo na obra. A gente vai relatando num livro de crônicas, que muitas vezes funciona como um livro de memórias, das vivências, recordações.
DT – Quais outras cidades você cita em suas crônicas, além de Teófilo Otoni?
LAC – Essa pergunta é interessante, porque existe um capítulo do livro que se chama A Urbe, como a cidade influencia na produção do cronista. Porque o Lêdo Ivo falou isso num livro dele recente, que a casa é muito pouco para o homem, ele precisa da cidade. Essa rotina da cidade é um campo de geração, temas para o cronista. E a maioria dessas referências da cidade, a rotina, eventos, são das cidades onde eu vivo, que é Goiânia. Mas eu viajo para outros lugares, e outra cidade a qual me identifico muito por lá, que é o Rio de Janeiro, onde muitos cronistas brasileiros moraram, e a grande crônica brasileira é carioca desde Gonçalves Dias, que talvez seja o primeiro cronista de jornal. José de Alencar, Machado de Assis, Arthur Azevedo, depois chegando os mais modernos, Rubem Braga, Paulo Mendes Campos, Antônio Maria e Drumont. Todos eles falam das suas cidades, das suas rotinas. A cidade onde eu vivo, que é Goiânia, tem muito dela no meu livro, mas também tem referência aos lugares que eu viajei.
DT – Você sempre menciona sua cidade natal com muito carinho e entusiasmo. Alguma recordação especial daqui?
LAC – Eu acho que voltar a Teófilo Otoni para mim é sempre uma emoção diferente do que eu vivo rotineiramente, porque eu volto a ter contato com a geografia da cidade, com os morros, as ruas, os lugares que eu andei quando morava aí quando eu era criança, adolescente. É um contato comigo mesmo, que fica adormecido quando vivemos em outro lugar. Isso reacende a sua conexão com a cidade de onde você veio. Você passa a ter contato de novo com emoções que reacendem em você. Essa experiência de ter vivido aí, desde a própria geografia da cidade que eu falei, o sotaque das pessoas, a comida e o clima que são diferentes. É sempre especial, porque é um reacender de você mesmo, o encontro com o menino, com o jovem que você foi.
DT – O lançamento do seu primeiro livro de crônicas é a realização de um sonho. Algum agradecimento?
LAC – Realmente, publicar um livro é a realização de um sonho para qualquer pessoa e esse é o meu primeiro livro que eu assino sozinho. Eu já havia participado de uma coletânea com outros colegas anteriormente, mas esse é um projeto pessoal, trabalhei desde o início na escrita dos textos, depois na organização, nos capítulos, na divisão, quais as crônicas entrariam. Outras já estavam escritas, mas ficariam para um próximo. Toda a concepção do livro eu trabalhei, e quando a gente vê a obra finalizada, sendo vendida, sendo lida, sentimos uma sensação de realização, de conclusão de um projeto.
DT – Algum agradecimento?
LAC – Eu tenho que agradecer a muitas pessoas, a primeira é a minha esposa, mesmo que não esteja comigo mais materialmente, ela faleceu em 2021. Mas ela sempre foi a minha maior incentivadora, a minha primeira leitora. Esse livro começou com incentivo, com a partilha das ideias dos textos, das crônicas, e é dedicado a ela, que por justiça é quem eu devo mais agradecer. Alguém que não vive comigo fisicamente, mas continua vivendo comigo espiritualmente, como eu coloquei na minha dedicatória. E além dela tem as pessoas que me deram apoio para continuar escrevendo. Pessoas do meio literário, do meio jornalístico, editores de jornais, aqueles que aceitaram os meus textos. E aqueles que também me fecharam as portas, que rejeitaram os meus textos, me ignoraram, porque assim também eles me estimularam a melhorar, a conseguir superar e a vencer essas adversidades que sempre existem para cada escritor iniciante.