44,9% das mulheres violentadas durante a pandemia não buscaram nenhum tipo de ajuda

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Juliana Lemes da Cruz.
Doutoranda em Política Social – UFF.
Pesquisadora GEPAF/UFVJM.
Coordenadora do Projeto MLV.
Contato: julianalemes@id.uff.br

A vitimização das mulheres do Brasil tem sido monitorada pela equipe de pesquisadores do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), que publica achados periódicos em um documento denominado “Visível e Invisível”. O título sugere o quanto este tipo de violência ainda se mostra encoberto socialmente.

Na última semana foi lançada a 3ª edição do estudo que foi encomendado pelo FBSP ao Instituto de Pesquisas Datafolha, patrocinado pela empresa Uber. Os resultados expostos não surpreendem, mas, preocupam. Com a pandemia, os problemas sociais se intensificaram, muitas pessoas viram suas fontes de renda diminuírem, perderam empregos, adoeceram, viram familiares, amigos e conhecidos passarem por dificuldades diversas em razão de tantas outras adversidades provocadas pela pandemia de Covid-19. Tudo isso, com os serviços públicos funcionando de forma limitada.

Após um ano de mudanças bruscas nas formas de viver e sem a garantia estatal de amenização dos reflexos da pandemia em curto prazo, os problemas não deram trégua. Dentre os quais, a violência contra as mulheres. Por meio de entrevistas, o estudo apurou que 1 em cada 4 mulheres acima dos 16 anos sofreu violência física nos últimos 12 meses. Mais da metade dos brasileiros testemunharam algum tipo de violência contra uma mulher neste último ano e 73,5% da população acredita que essa modalidade violenta cresceu durante a pandemia. Homens e mulheres foram impactados pela pandemia de formas diferentes.

“Mulheres reportaram níveis mais altos de estresse em casa em função da pandemia (50,9% em comparação com 37,2% dos homens) e permaneceram mais tempo em casa, fato provavelmente vinculado aos papéis de gênero tradicionalmente desempenhados, dado que historicamente cabe às mulheres o cuidado com o lar e os filhos, o que aumenta a sobrecarga feminina com o trabalho doméstico e com a família” (FBSP, 2021, p.10).

A pesquisa evidencia que 4,3 milhões de mulheres (6,3%) foram agredidas com tapas, socos ou chutes. Isso quer dizer que a cada minuto, 8 mulheres foram agredidas no Brasil. Quando se trata de violência verbal, como xingamentos e insultos, o quantitativo de mulheres envolvidas triplica, gira em torno de 13 milhões (18,6%). A maioria das vítimas têm entre 16 e 24 anos de idade (35,2%), seguido das mulheres entre 25 e 34 anos. Dentre todas, as pretas experimentam níveis mais elevados de violência (28,3%), logo em seguida, as pardas (24,6%) e por último, as brancas (23,5%). As separadas ou divorciadas são as mais vitimadas, o que indica, ademais, históricos de violências repetidas pelos seus parceiros íntimos.

Como já sinalizados neste espaço por diversas outras vezes, mais uma vez, foi verificado por meio da pesquisa que os principais autores de violência contra as mulheres são companheiros, ex-companheiros e familiares. O lar foi considerado o espaço mais inseguro para a mulher, uma vez que quase a metade das entrevistadas (48,8%) sinalizou que a violência mais grave percebida no último ano, aconteceu dentro de casa.

Apesar disso, as denúncias à polícia não ocorreram na proporção que aconteceram as violências. A busca das mulheres por ajuda começa no âmbito das relações familiares (21,6%), depois entre amigos (12,8%) e logo em seguida, na Igreja (8,2%). Em que pese terem ocorrido agressões graves, 44,9% das mulheres deixaram de procurar por qualquer tipo de ajuda. Entre aquelas que buscaram denunciar a violência, 11,8% buscaram uma delegacia da mulher; 7,5% uma delegacia comum; 7,1% a Polícia Militar e 2,1% procuraram se informar via Central de Atendimento à Mulher, conhecido como “Ligue 180”.

Dentre as mulheres que sofreram violência, 25,1% atribuíram à perda da renda e emprego em razão da pandemia, como um fator importante para a intensificação da violência contra elas no âmbito do lar. A pesquisa indicou que as mulheres também sinalizaram a ocorrência de assédio em transportes públicos, andando na rua e no trabalho. E, nesta situação, nos últimos 12 meses, as mulheres negras foram as mais afetadas (52,2%).

Dentre as pardas registrou-se 40,6% e entre brancas, 30%. Como previsto pelos estudiosos da área, a violência contra as mulheres foi intensificada com a pandemia, tornando as mulheres, principalmente as negras e pobres, ainda mais vulneráveis. (Referência e imagem: “Visível e Invisível: A vitimização de Mulheres no Brasil” | 3ª edição | FBSP, 2021. Disponível em: https://forumseguranca.org.br/).

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