O silêncio dos homens: sobre a pressão social que eles também sofrem

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Juliana Lemes da Cruz.
Doutoranda em Política Social – UFF.
Pesquisadora GEPAF/UFVJM.
Coordenadora do Projeto MLV.
Contato: julianalemes@id.uff.br

O tema escolhido para esta semana diz respeito ao quão importante é considerarmos os homens quando tratamos do fenômeno da violência doméstica contra as mulheres. Estudos apontam que esta modalidade violenta ocorre principalmente no âmbito das relações íntimas de afeto, especialmente entre companheiros (as) e ex-companheiros (as).

Muito falamos sobre as mulheres diante da situação de violência sofrida. No entanto, pouco questionamos sobre o lugar dos homens nesse processo, de maneira crítica e aprofundada. Pois bem! De forma breve, trato de iniciar, nesse espaço, a discussão desse tema que será alvo de um encontro a ser transmitido ao vivo pelo canal youtube do GEPAF UFVJM nesta sexta-feira, dia 03/09/21, às 19hs. Registro neste espaço esta informação, pois o momento, que será a 14ª live, ficará gravado na plataforma, junto à playlist do Projeto MLV.

A iniciativa está vinculada como projeto de extensão universitária do Grupo de Extensão e Pesquisa em Agricultura Familiar da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri – campus Teófilo Otoni, e tem por objetivo a prevenção da violência contra meninas e mulheres pela via do empoderamento feminino e autonomia econômica. Em razão das restrições impostas pela pandemia de Covid-19 foi necessária a reorientação das atividades, limitando o contato físico com participantes e incluindo um ciclo de lives – transmissões ao vivo – com temas variados e com apoio de inúmeros voluntários e especialistas nos assuntos tratados.

A temática principal do debate envolve as pressões sociais sobre os homens, relacionando a necessidade individual e coletiva que têm de validação perante outros homens. Consequentemente, esta dinâmica condiciona suas formas de lidar com seus relacionamentos, sejam eles conjugais, familiares, entre amigos, em comunidade ou no trabalho. Desde a infância, os homens passam por rituais que moldam suas masculinidades e, geralmente, são violentos.

Desde as disputas no “braço/ porrada” entre colegas no final da aula, até a aposta por quem sai com a mulher mais cobiçada da balada. A construção das masculinidades (no plural mesmo, porque são várias), faz-se de forma a destacar o fator virilidade, a partir de uma noção de dominação sobre outros corpos. Esta forma de moldar homens estabeleceu o controle de suas emoções, como exemplo a conhecida expressão: “homem não chora”.

Segundo a pesquisadora Valeska Zanello, sob a perspectiva da virilidade masculina no ocidente, a dominação constituiu-se sob quatro pilares: 1. No mundo social – características culturais históricas e locais; 2. Contra si mesmo – embrutecendo e controlando afetos e comportamentos; 3. Contra as mulheres – enxergando-as como inferiores ou menos nobres; e 4. Contra outros homens – competindo com iguais e subjugando inferiores.

Nesse cenário, acredito que a grande questão a ser conhecida e trabalhada encontra-se na estrutura da sociedade, reproduzida de geração em geração como parte naturalizada da nossa história. Assim, resisto às interpretações que culpabilizam, exclusivamente, a figura masculina pelas violências perpetradas contra as mulheres. Prefiro acreditar que o que ocorre faz parte de uma dinâmica bem mais ampla, que merece aprofundamento para ser compreendida e acessada.

Por todo este processo de formatação, posso afirmar que homens também sofrem e precisam encontrar aberto o espaço de fala para as discussões que envolvem o fenômeno da violência contra as mulheres. Não é possível falarmos desse assunto sem envolver e compreender o lugar dos homens nessa empreitada. Falar de mulheres é, necessariamente, falar de homens. Por isso, o convite para que acompanhe as lives do Projeto MLV, que, além de serem informativas, são formativas, para mulheres e também para homens. (Obra de referência: “Saúde mental, gênero e dispositivos”, Valeska Zanello, 2018).

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