Mulheres na linha de frente: a iniciativa da Roberta Cangussu em prol das indígenas

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Juliana Lemes da Cruz. Doutoranda em Política Social – UFF. Pesquisadora GEPAF/UFVJM. Coordenadora do Projeto MLV. Contato: julianalemes@id.uff.br
Roberta Cangussu – ativista da causa indígena

A pandemia de COVID-19 ameaça seriamente a preservação dos povos indígenas do Brasil. Essa condição demanda deles o total isolamento no interior das aldeias e isso tem sido o grande desafio. Tanto na região amazônica, onde os indígenas são alvo de ataques frequentes às suas terras pelas riquezas naturais que dispõem, quanto no Vale do Mucuri, os indígenas tentam manter sua cultura viva.

A terceira homenageada da Campanha de valorização das mulheres na linha de frente do enfrentamento da pandemia de Covid-19 na nossa região é a Roberta Cangussu. Ela morou por algum tempo em Águas Formosas onde teve contato aproximado com os Maxakali das aldeias Água Boa e Pradinho, que ficam nos municípios de Bertópolis e Santa Helena de Minas.

Atualmente residindo em Teófilo Otoni e trabalhando na Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (EMATER), é uma ativista da causa indígena. Por seu interesse, tomou conhecimento das dificuldades do povo Maxakali da região em razão da recomendação de distanciamento social por conta da pandemia. Diante da experiência junto aos indígenas, sabe que são mais propensos à infecção por doenças e teme que se o vírus chegar à aldeia podemos assistir uma tragédia muito grande. Por isso, de iniciativa, começou a arrecadar cestas básicas, mas, viu que ainda não era o suficiente. “Eu pensei muito na questão do isolamento, porque para eles é muito mais difícil do que pra gente. Os Maxakali são um povo nômade. E tem ainda a questão emocional, social e a financeira. A gente tem uma peça que é extremamente sagrada no artesanato Maxakali, a bolsa”. As bolsas produzidas pelas mulheres Maxakali têm como base fios de algodão ou fibra natural de embaúba.

Em conjunto com funcionários da Fundação Nacional do Índio (FUNAI), Roberta iniciou uma campanha pela comercialização do artesanato indígena. Segundo ela, a princípio, essa seria uma ideia que não iria muito à frente, porque sabe que a última coisa que uma pessoa sensata precisa em um momento de pandemia é uma bolsa para sair. A parcela que pode ficar em casa, geralmente, não faz esse tipo de investimento. Mesmo pensando que não daria muito certo, arriscou. “(…) comecei a divulgar nas redes sociais e a campanha foi tomando uma proporção tão grande que pessoas do exterior estão me procurando, querendo a bolsa Maxakali. Vendi bolsa para Belo Horizonte, São Paulo, Governador Valadares e Ipatinga. As pessoas estão se solidarizando com os Maxakali e conhecendo a arte que é tão rica, tão bonita e ainda desconhecida”.

A Roberta foi indicada por Irislene Rocha, atuante junto aos indígenas pela FUNAI, há alguns anos. Ela quem acompanha o esforço e apoio prestado por nossa homenageada às mulheres indígenas da Aldeia Verde, localizada no município de Ladainha. “Penso muito na autoestima das mulheres, eu tenho certeza que elas estão se sentindo muito especiais porque a bolsa é fabricada exclusivamente pelas mulheres e isso está mudando a realidade social da aldeia”. Roberta completa que apesar do pouco tempo, toda a semana comercializa de 10 a 15 bolsas. Chegando ao ponto delas não darem conta de confeccionar. E isso, nunca tinha acontecido.

Ressaltou ainda que, infelizmente, no nosso município estava pouco valorizado e com o início da campanha, o artesanato Maxakali está sendo reconhecido no Brasil inteiro. Roberta é mãe de três meninas, dedica suas horas de folga para o fomento à campanha e tem a intenção de criar uma loja virtual para que as peças alcancem mais pessoas, sejam valorizadas e gerem independência para as indígenas. Disse que só pensa em parar com esse movimento quando perceber que a comercialização está se mantendo sozinha, pelas mãos das mulheres. Considera que este passo será muito importante para o povo Maxakali. Roberta realiza toda a campanha via redes sociais e diz se sentir muito feliz com o resultado da iniciativa porque tem certeza que está sendo muito importante para as mulheres da aldeia. Reafirmamos aqui, nosso reconhecimento à nossa homenageada pela dedicação e empenho na preservação da cultura indígena em tempos de pandemia, motivando e fortalecendo as mulheres Maxakali do território do Vale do Mucuri.

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