Sim, devo dizer com todas as letras que não é nada fácil exercer esse ofício de cronista. Há leitores que me pedem para escrever somente crônicas suaves, amenas, doces, líricas, lúdicas, poéticas e que eu faça deste meu cantinho de página uma espécie de oásis para amenizar as tantas notícias ruins, desagradáveis, tóxicas – tais como as dessa pandemia do novo Coronavírus que grassam em outros veículos de comunicação.
Todavia, outros existem e me sugerem que mergulhe fundo na realidade tal e qual ela se nos apresenta, com seus dramas e tragédias. E assim me vejo muitas vezes dividido, quase partido ao meio pelas diferentes sugestões dos que me leem.
Não é raro sentir-me como se fosse o pedaço de corda de um cabo-de-guerra, puxado de um lado para outro completamente opostos.
O diabo é que não sou mui propriamente quem escolhe os assuntos. Na verdade, para ser sincero, sou como que por eles escolhido, além de ser dotado do mau costume de só escrever o que me vem a minha capacidade mental limitada na hora em que atrelo às teclas do computador.
Sou levado, movido por meus sentimentos e emoções do momento feito um pedaço de bananeira pela correnteza do rio Suassuí – lá em Coroaci, outrora revolto e hoje não mais pela sedimentação que lhe foi imposta por nós.
Sento-me à mesa de trabalho e as palavras me vão saindo sem que eu tenha um absoluto domínio sobre elas. Sou, em essência, um inquilino das palavras, não o seu locador e em determinadas situações, findo por pagar-lhes um aluguel demasiado caro. De certas vezes, escrevo anjos. De outras, escrevo demônios. A parte de dentro do pão coberta de deliciosa manteiga e a parte de fora com a casca grossa do trigo e do bromato.
Eu nada tenho do que me queixar dos meus leitores (e das minhas leitoras), tanto os ocasionais como os assíduos. Todos possuem seus gostos, suas preferências, suas necessidades de leitura, do que desejam ler nas cotidianas mal traçadas deste humilde escrevinhador de croniquetas.
Porém, devo avisar que só escrevo o que penso, só faço o que gosto e o que me faz bem. Faz parte do meu show, da minha maneira de ser e escrevinhar. As críticas e os elogios são os ossos e o filé do ofício.
Bem que eu gostaria de descrever e abordar somente o lado bom da vida – seja lá em Coroaci ou aqui em Teófilo Otoni, falar exclusivamente do belo que há em tudo que nos cerca.
Creio que o oscilar do estado de humor, a alternância do alegre e do triste é e sempre será o tempero do escrever. Quem escreve deve ser, no mínimo, fiel a si mesmo, não se deixar acorrentar pelo que vai pensar o leitor. Escreve-se do jeito que se pode e que se sabe e pronto. O que mais importa é a qualidade do que produzo. A única coisa que almejo ser é um bom artesão como qualquer escritor que se preze.
Sobre o colunista: Aníbal Gonçalves é pedagogo, graduado em Administração Escolar, ex-diretor da Escola Estadual de Coroaci – MG [hoje Dona Sinhaninha Gonçalves] e professor de Filosofia, Sociologia e História da Educação. Foi chefe do Departamento de Educação Cooperativista da CLTO. Atualmente, jornalista e radialista da 98 FM (Teófilo Otoni) e colunista do Jornal Diário Tribuna.