Sopinha de Letras do Diagnóstico Laboratorial da Covid-19

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COVID(ando) a Refletir

Bruno Oliveira
Farmacêutico Analista Clínico
Pós Graduado em Química (UFLA) – Pós Graduado em Docência do Ensino Superior (DOCTUM) – Pós Graduado em Vigilância em Saúde Ambiental (UFRJ) – Pós Graduado eam Vigilância em Saúde (Instituto Sírio-Libanês de Ensino e Pesquisa)

Olá, tudo bem? Esta semana falaremos sobre o diagnóstico laboratorial da Covid-19. Muitos me perguntaram por que eu ainda não havia escrito sobre o tema, já que trabalho em um laboratório de análises clínicas e tenho me dedicado diretamente com o diagnóstico Covid-19. A resposta é simples: é um assunto de difícil entendimento, com múltiplas interpretações, situações inusitadas/exceções e, principalmente, de difícil explicação. O que tentaremos neste artigo será esclarecer o básico sobre os exames disponíveis, quando fazê-los e as suas interpretações, num linguajar muito simples e direcionado aos leigos.

Mas de antemão deixo claro que não há uma receita pronta que explique a situação clínica do indivíduo. O que colocaremos aqui servirá para nortear, partindo do que acontece na maioria dos casos, mas nunca cravando um diagnóstico ou fase da infecção que o indivíduo se encontra. Todos terão que ter muito cuidado nesta análise e sempre contar com a ajuda de um profissional de saúde experiente para avaliar de forma completa e unívoca cada caso. Quando estes exames são interpretados de forma errada, pode atrapalhar no controle da disseminação da doença e expor os pacientes e seus contatos a riscos desnecessários.

Eu acompanho a imprensa local, portanto tenho visto e ouvido a forma que estas informações são repassadas e o quanto pode ficar confuso para quem não é da área da saúde. Meu principal objetivo é simplificar e repassar de uma forma mais compreensível. Para tanto, vamos abordar alguns conceitos importantes:

A sequência da infecção é: Contato com o vírus à Fase pré-sintomática à Fase sintomática à Melhora dos sintomas ou óbito;

– Não existe um exame perfeito (100% eficaz);

 – Os testes disponíveis procuram coisas diferentes, há os que procuram material genético do vírus (RNA) e os que procuram anticorpos específicos contra o vírus que nosso organismo produz pós infecção. Então, o vírus é detectado primeiro nos exames e os anticorpos depois (em média 8 dias pós início dos sintomas);

– PCR, Biologia Molecular, swab são formas diferentes que as pessoas usam para referir ao mesmo exame, que se trata de um exame de biologia molecular pela técnica de RT-PCR. Swab é uma haste com uma ponta de algodão (parece um cotonete) que é usado na forma mais comum de coletar amostra para este exame.

 – Nosso sistema imune produz dois tipos de defesa a qualquer tipo de invasor (vírus, bactéria, protozoário, etc). A imunidade Inata ou Natural ou Inespecífica é a primeira linha de defesa do organismo, com o qual já nascemos. É um sistema de defesa não específico, ou seja, é o mesmo para qualquer tipo de invasor. Já a imunidade adquirida ou Humoral ou Específica é ativada pelo contato com agentes infecciosos e é composta, principalmente, por Imunoglobulinas (anticorpos). E são os anticorpos (IgM, IgA e IgG) específicos da covid-19 que são procuradas pelos exames sorológicos.

– Resultado Falso Negativo: Ocorre quando o teste deveria ser positivo porque o indivíduo possui covid-19, mas é negativo. Isso pode acontecer em exames que são menos Sensíveis.

– Resultado Falso Positivo: Ocorre quando o teste deveria ser negativo porque o indivíduo não possui o vírus, mas o resultado é positivo. Isso pode acontecer em exames que são menos Específicos. No caso do Covid, pode ocorrer por detecção de anticorpos específicos de outros vírus em vez do anticorpo da Covid-19, o que chamamos de Reação Cruzada.

Até para achar um gráfico de simples entendimento para iniciarmos o assunto é difícil, pois há uma diversidade enorme deles e com informações diferentes.

FONTE: http://pncq.org.br/uploads/2020-1/295-1276-3-PB.pdf

O RT-PCR (Biologia Molecular) é o Padrão Ouro, em outras palavras, é o exame mais recomendado para o diagnóstico da Covid-19, por dois principais motivos: a) Por que é uma metodologia de especificidade alta, ou seja, em um exame positivo podemos ter mais de 99% de certeza que realmente trata-se de covid; b) Por que a coleta de material é realizada já nos primeiros dias de sintomas, o que favorece o isolamento social do indivíduo infectado e o monitoramento dos contatos. Mas, infelizmente, é um exame menos acessível. Ele é mais caro e não temos laboratórios aqui na região que façam esta técnica. Logo o que é coletado aqui, é enviado para a FUNED- -BH ou laboratórios particulares de grandes centros.

Os exames sorológicos (que procuram anticorpos) podem ser apresentados de várias formas. Na Covid a mais comum são os Testes Rápidos Imunocromatrográficos, geralmente usando uma gota de sangue da ponta do dedo, mas que também pode ser usado sangue coletado na veia. Os laboratórios realizam outras técnicas ou coletam e enviam para laboratórios parceiros. Podemos destacar o ELISA e a Quimioluminescência, que são técnicas mais eficazes (sensíveis e específicas) que os Testes Rápidos. Em geral esses exames devem ser realizados a partir do 8º dia de primeiros sintomas e possuem especificidade e sensibilidade menor que o RT-PCR. Não é um exame muito indicado para o diagnóstico da covid, justamente por ter que ser realizado depois da fase de maior transmissão da doença e porque tem uma maior chance de resultados falsos positivos e falsos negativos.

Bom, vou parar por aqui, o chefe reclama que escrevo demais. Mas vou continuar a falar sobre este assunto na próxima semana, Focando nos principais erros cometidos na realização dos exames e em suas interpretações.

Resolvi disponibilizar meu contato de WhatsApp para tirar dúvidas sobre o tema. Entendo ser mais uma forma de ajudar nesta guerra. O meu número é 33 9 8845-6160. É imprescindível que as dúvidas sejam enviadas somente por texto e que a pessoa se identifique na primeira mensagem.

Mato Sem Cachorro: No último final de semana me deparei com uma aglomeração de pessoas em um bar pequeno, onde as pessoas não usavam máscara e não respeitavam o distanciamento preconizado pelas autoridades de saúde. Liguei na Polícia Militar para fazer a denúncia, mas o sargento disse que deveria ser feita na Prefeitura e que se houvesse necessidade de apoio, a Prefeitura faria contato com eles. Então ele me passou um número de celular da Prefeitura. Liguei e expliquei a situação, mas atendente disse que aquele número seria para tirar dúvidas sobre a Covid-19 e agendamentos de Testes Rápidos, e que eu deveria ligar na PM. Eu expliquei que havia ligado e que eles disseram que eu deveria ligar neste número. Ela não gostou muito da resposta e me deu outro número de celular. Tentei ligar várias vezes, mas o celular estava desligado. Com a palavra a Polícia Militar e Prefeitura Municipal. O que faremos nestes casos?

Projeto Conscientizar: Pensando em fazer algo a mais para ajudar no combate à Pandemia, estarei me colocando à disposição das empresas, igrejas, etc., para realização de palestras presenciais, respeitando as recomendações de segurança, para falar sobre as ações de maior eficácia no controle da doença: Distanciamento social e a proteção individual através dos hábitos de higiene e uso de máscara. A iniciativa visa sensibilizar as pessoas, de uma forma bem descontraída, a seguirem essas recomendações e, principalmente, fazê-las da maneira correta. Aos interessados, favor fazer contato no 33 9 8845-6160 ou pelo e-mail brunotokaia@yahoo. com.br, para agendamento.

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