Eleições 2022: brasileiros temem agressões físicas por suas escolhas políticas ou partidárias

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Juliana Lemes da Cruz.
Doutoranda em Política Social – UFF.
Pesquisadora GEPAF/UFVJM.
Coordenadora do Projeto MLV.
Contato: julianalemes@id.uff.br

Não é mera impressão. Os eleitores estão com medo de manifestar suas intenções de voto nas eleições de 2022. E não é por acaso. Ondas de intolerância política, regadas de violência física têm sido registradas em diferentes regiões do Brasil.

Segundo a Pesquisa “Violência e democracia: panorama brasileiro pré-eleições 2022” encomendada ao Datafolha pela Rede de Ação Política pela Sustentabilidade – RAP, em parceria com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, 7 a cada 10 brasileiros entrevistados disseram ter medo de agressões físicas em razão de sua escolha política ou partidária e que 9% dos eleitores podem se abster de votar por conta do medo da violência política.

Até o mês de julho de 2022, segundo o jornal Estadão, o número de assassinatos por motivações políticas já havia superado os números de quatro últimas eleições (1989 – 23 casos; 1994, 17; 2006, 25; e 2014, 20). Registros deram conta de 26 assassinatos dessa natureza nesse ano eleitoral (2022).

Isso parece ocorrer em razão do acirramento da tradicional polarização entre candidaturas à presidência da república no Brasil. No pleito de 2022, a principal disputa está entre Luís Inácio Lula da Silva, que foi presidente do país por dois mandatos consecutivos (entre 2003 e 2010), e Jair Messias Bolsonaro, atual presidente, eleito nas eleições 2018.

De um lado, uma candidatura baseada em discursos associados à “esquerda”. De outro, uma candidatura associada à “direita”. Trata-se de polos opostos, que apresentam significativas diferenças, especialmente quanto às pautas a serem mais observadas durante os respectivos governos. No entanto, a depender da história e do contexto cultural de cada país, as características de “esquerda e direita” variam ao longo do tempo.

Essas definições surgiram no século XVIII, durante a primeira fase da Revolução Francesa, de modo que a burguesia, que buscava o apoio da população, levou às assembleias constituídas o interesse na diminuição dos poderes associados à nobreza e ao clero. “Com a Assembleia Nacional Constituinte montada para criar a nova Constituição, as classes mais ricas não gostaram da participação das mais pobres, e preferiram não se misturar, sentando separadas, do lado direito. Por isso, o lado esquerdo foi associado à luta pelos direitos dos trabalhadores, e o direito ao conservadorismo e à elite francesa” (ESTADO DE MINAS, 2019).

No Brasil essas definições tomaram corpo no período do regime militar, quando, associou-se partidos e grupos políticos ao governo autoritário à época. Em contraponto, partidos e grupos que não concordavam com o regime imposto, foram associados à esquerda. Muitos partidos políticos, inclusive, operaram na clandestinidade, tornando-se alvos da repressão adotada no período.

Assim, de forma descomplicada, a “esquerda” representaria bandeiras associadas à população mais pobre, à corrente progressista, na defesa e garantia dos direitos dos trabalhadores, além de prezar pelas responsabilidades do Estado, especialmente na promoção da justiça social. Noutro sentido, a “direita” faria alusão às bandeiras mais conservadoras e tradicionais, relacionadas à manutenção do poder das elites e à promoção das liberdades individuais. Defende a redução da interferência do Estado em certas questões, especialmente na economia, sendo favorável, inclusive, às privatizações.

Quando, membros de ao menos um desses polos agem de forma intolerante à posição ideológica ou política partidária de membros do polo oposto ao seu, no momento presente, corre-se o risco de que o desacerto termine em tragédia. Para evitar situações desagradáveis protagonizadas pela reação de pessoas que pensam diferente, alguns eleitores têm deixado de manifestar sua posição política, embora, seja consenso de que a livre manifestação de pensamento constitui condição prevista no âmbito de uma democracia.

Referências: Pesquisa RAP/FBSP: https://www.raps.org.br/biblioteca/pesquisa-violencia-e-democracia-panorama-brasileiro-pre-eleicoes-2022/?b=20807/// Matéria Estadão: https://www.em.com.br/app/noticia/especiais/educacao/enem/2019/03/15/noticia-especial-enem,1037686/direita-e-esquerda-entenda-seu-significado.shtml/// Artigo: “Esquerda e Direita no Brasil: uma análise conceitual” https://periodicoseletronicos.ufma.br/index.php/rpcsoc/article/view/591

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