As mulheres ingressaram nas polícias militares estaduais do Brasil a partir da década de 1980. De lá pra cá, elas acumulam conquistas relacionadas à ocupação dos seus espaços em terreno majoritariamente masculino. A bicentenária Polícia Militar do Estado de Minas Gerais formou sua primeira turma de policiais femininas há quase quarenta anos. Assim, no âmbito da PMMG foram mais de duzentos anos de serviço prestado exclusivamente por homens.
Nesta edição, destacamos e valorizamos o trabalho das mulheres na linha de frente do combate à pandemia de Covid-19, que desempenham suas funções como policiais militares no município de Teófilo Otoni. Isso porque, a vida delas também foi radicalmente modificada por conta das recomendações de isolamento social. Não podendo escolher “ficar em casa”, tendo em vista que a atividade ostensiva de polícia é considerada essencial, as mulheres policiais têm, neste momento, se desdobrado para dar conta de encaminhar questões domésticas, especialmente relacionadas aos filhos, já que as aulas presenciais estão suspensas e os avós são considerados grupos de risco. Muitas delas, antes de assumir seus plantões, que por vezes, estende-se às madrugadas, precisam deixar tudo pronto em suas casas. Uma vez que, nem sempre a figura paterna está presente e não é recomendável delegar tais funções a pessoas externas ao núcleo familiar nesse momento de pandemia.
Nossa primeira homenageada desta edição é Kamilla de Souza Mendes, que é a mãe da Ana Beatriz e da Izabel. Ela atua na Polícia Militar em distintas frentes, sempre, em contato direto com a comunidade. Atualmente, está cabo de polícia, com 13 anos de corporação. Quase a totalidade dos plantões, na condução de uma viatura policial, compondo equipes de atendimento às ocorrências de todo tipo de natureza. Desde o início da pandemia tem mantido distanciamento de seus pais, o que dificultou bastante sua rotina de trabalho e cuidado com as filhas. Como seus horários de trabalho são alternados, esta fase tem sido bem mais difícil para ela: “(…) a pandemia trouxe maiores dificuldades para a educação das minhas filhas e exigiu de mim mais esforço para acompanhá-las nas aulas online. Nunca imaginei que teria que lidar com uma situação de pandemia”. Apesar da instrução e auxílio a vários segmentos sociais, Kamilla destacou que lida “(…) todos os dias, com pessoas que ainda não acreditam na necessidade da proteção ou mesmo, a negam”.
Na mesma direção, destacamos o empenho da Taísa Hirle Farina, a segunda homenageada desta edição, que é a mãe do Davi e da pequena Sara. Sua atuação está diretamente relacionada ao atendimento ao público em um dos locais de maior circulação de pessoas de toda a região do Vale do Mucuri: a Praça Tiradentes. Taísa desempenha suas atividades dialogando com a comunidade e redigindo boletins de ocorrência solicitados. Nem sempre, o distanciamento é considerado quando alguém se aproxima para solicitar apoio. Por ter ciência do risco de contágio nesse espaço, procura tomar todos os cuidados necessários. Assim como na experiência anterior, Taísa precisa contar com a ajuda de pessoas da família para o cuidado dos filhos, especialmente da Sara, que ainda é um bebê. “Pra mim, tudo ficou mais difícil! Por ter crianças pequenas em casa, o cuidado é redobrado. O receio de contaminar é grande (…). Somente Deus pra nos guardar desse mal que está no ar”.
Nossa terceira homenageada é a Thaíse Helena Cerqueira Felix de Novais. Dentre as três, ela é a mais jovem de polícia. Completou 10 anos na corporação no último dia 16 de julho e coleciona, desde então, histórias de uma trajetória profissional singular, que foi enriquecida pelos três filhos que gestou durante o desempenho das atividades de polícia. Thaíse é mãe da Marina, do Pedro e do Gabriel, e companheira do Valfrido. Residindo no Distrito de Mucuri, onde está a sua rede de apoio familiar, se desloca a cada plantão para a sede Teófilo Otoni, seja de dia, de noite ou de madrugada. “(…) durante a pandemia a rotina foi dificultada, os horários de transporte reduzidos ou inexistentes não conciliava com a escala. Conto com a compreensão de colegas que trocam o horário de serviço e com apoio do meu marido, que as vezes, espera de 2 a 4hs até eu terminar o turno. Chegando em casa de madrugada, faço a descontaminação do material de trabalho.(…) Graças a Deus, conto com minha mãe e irmã que estão em home office, minha sogra que é autônoma, e demais familiares para cuidar das crianças. Meus filhos estão estudando em casa. Confesso que era nessa hora de escola que sobrava um tempo para afazeres ou descanso. Agora somos os “professores”!(…) foram muitas as tarefas incluídas na rotina que já era apertada”. Thaíse está há 10 dias afastada dos seus filhos, em quarentena. Disse ainda que “O fator que mais me traz dificuldade em estar na linha de frente é o medo de contaminar alguém da minha família”.
O período de pandemia revelou que para as mulheres que desempenham atividades essenciais, as dificuldades foram exponencialmente aumentadas. Por conta disso, manifestamos todo o nosso reconhecimento à Kamilla, à Taísa e à Thaíse pelos esforços cotidianos na linha de frente do combate à pandemia de Covid-19. Elas representam parcela significativa de policiais que, em razão da sobrecarga resultante da mudança dos ritmos de vida por conta do período de isolamento social, precisaram se desdobrar para o cumprimento de suas atribuições funcionais associada à proteção de sua família e sua própria proteção.