Mulheres na linha de frente como dirigentes: Luciana Marx, Paula Cristina e Rosely Chaves

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Juliana Lemes da Cruz
Doutoranda em Política Social – UFF. Pesquisadora GEPAF/UFVJM. Coordenadora do Projeto MLV. Contato: julianalemes@id.uff.br

A ocupação de postos de chefia, em todos os setores da sociedade, tem predominância masculina. O que assinala a histórica construção social que submete mulheres aos espaços ocupacionais de importância secundária, que não representam poder e status social. Por conta disso, nossa campanha de valorização das mulheres na linha de frente da pandemia de Covid-19 também busca dar visibilidade às mulheres que superaram o fenômeno do “teto de vidro”, que limita a escalada delas aos postos de liderança em suas instituições. Cientes de que a ocupação dos postos de direção de equipes e/ou instituições por elas representa inspiração para outras mulheres, apresentamos as homenageadas desta edição, que atuam em Teófilo Otoni, MG. 

Nosso primeiro destaque é a Luciana Marques Marx Araújo. Ela é a mãe da Anita e do Cézar, companheira do Leonardo, e enfermeira que há mais de 10 anos é a responsável técnica pelo serviço de terapia renal substitutiva do Hospital Santa Rosália, a chamada Hemodiálise. Coordena uma equipe de cerca de 30 profissionais. No início da pandemia, em meados de março, ela percebeu muitos afastamentos no setor.  Segundo Luciana, não pelo coronavírus, mas por problemas emocionais associados ao medo. O que é compreensível em um cenário mundial de incerteza sobre como lidar com os efeitos da doença. Da equipe, entre março e julho, 7 se contaminaram sem necessidade de internação. “Não é fácil para quem está na linha de frente trabalhando. Eu me sinto muito orgulhosa de poder estar contribuindo nessa pandemia”. Ela enfatizou que uma de suas grandes dificuldades é separar a Luciana enfermeira daquela que é mãe e filha. Lidar com adoecimento de pessoas que se tem ou criou vínculos é algo que considera desconfortante. Assumiu que, às vezes, a emoção toma conta dos profissionais. Que isso ocorre porque têm coração. “Eu não tenho medo de chorar. Às vezes, a gente não chora na frente do paciente, mas se recolhe ao banheiro e desaba a chorar”. Luciana reconheceu a extrema importância do trabalho de cada profissional do setor, principalmente, durante este difícil momento de pandemia. O setor de Hemodiálise acolhe 110 pacientes crônicos e 20 com insuficiência renal aguda. Eles ficam 4 horas ligados a uma máquina, 3 vezes por semana.

Na direção do protagonismo feminino descrito até aqui, apresentamos nossa segunda homenageada, a Paula Cristina dos Santos. Como administradora, desde 2017 dirige um dos hospitais de referência no tratamento da Covid-19 no Vale do Mucuri, o Bom Samaritano. Ela é a mãe do Hebert e do Emanuel e companheira do Ormínio. Paula lembra que são muitos os desafios, que “(…) nesse atual momento de pandemia, onde se luta contra um inimigo invisível, estruturas hospitalares precisaram ser adaptadas”. Pontua que além da gestão dessa estrutura e dos recursos financeiros, a gestão dos recursos humanos é o principal, pois seria o pilar para o alcance do objetivo almejado. “Temos um trabalho desenvolvido na ciência, técnica e humanização por parte de todos os profissionais da saúde envolvidos no processo de cura do paciente, razão pelo qual, a evidência da recuperação e cura dos que vencem a Covid 19 está diretamente ligada ao preparo técnico, suporte material e o fator humano da equipe”. Na direção deste equipamento público de singular envergadura, que possui cerca de 230 colaboradores que são as referências para uma população de quase 1 milhão de habitantes, Paula tem deixado claro e exercitado a missão que é cuidar das pessoas, protegendo as equipes na linha de frente com devidos equipamentos de segurança individual e possibilitando a disponibilização de medicamentos para o tratamento dos que mais precisam nesse momento.

Nossa terceira homenageada é a Rosely Chaves. Como psicóloga, coordena a Rede de Saúde Mental do município de Teófilo Otoni, representado pelos Centros de Atenção Psicossocial II, AD III e infanto juvenil. Ela é a mãe da Mariana e do Gustavo, companheira do Jorge Arcanjo. Rosely enfatizou que nesta pandemia, apesar do crescimento da demanda, têm tido bons resultados com o trabalho em equipe. “No momento são muitos os desafios que temos enfrentado. Mas com amor, dedicação e coragem estamos vencendo.  É um grande desafio cuidar do portador de sofrimento mental que sofre também o preconceito”. Rosely, juntamente com suas equipes, tem trabalhado com um dos públicos de situação mais latentes na sociedade, que demanda dos profissionais habilidade e sentimento de solidariedade para com as famílias, bem mais que capacidade técnica. Uma atribuição que exige a defesa da causa e a consciência da importância da atuação sistemática durante o período de pandemia.

A estas mulheres, líderes, responsáveis por manter a motivação das equipes de trabalho sob sua direção, manifestamos nosso reconhecimento pela essencial prestação de serviço à comunidade, muitas vezes, invisibilizado. Nossa gratidão à Luciana, à Paula e à Rosely pelo compromisso e responsabilidade, mesmo com todos os desafios, principalmente, pela particularidade de serem mulheres diante de uma sociedade tão desigual e que lhes impõe tantos limites. (Campanha MLF no instagram: @projetomlv. Sobre o “teto de vidro”: https://www.brasildefato.com.br/2020/03/05/artigo-o-teto-de-vidro-e-as-mulheres-nos-espacos-de-poder-por-yanne-teles)

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