Foco no que tenho ou no que me falta?

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Juliana Lemes da Cruz.
Doutora em Política Social (UFF).
Conselheira do Fórum Brasileiro de Segurança Pública.
Contato: julianalemes@id.uff.br | @julianalemesoficial

Ter noção do que temos costuma ajudar a identificar o que nos falta. Mas, e quando focamos no que falta sem termos noção do que temos? A conta não fecha. E tudo trava. Isso acontece porque cometemos o erro pessoal de tentar atender às expectativas das pessoas que estão ao nosso redor e que, inconscientemente ou não, nos fazem cobranças e mais cobranças a partir do que pensam que somos capazes. Mas, quem tem esse poder de saber até onde conseguimos ir, somos nós mesmos e não os outros. Pecamos ao colocar esse poder em mãos que não são as nossas.

“Quando não se sabe onde se quer chegar, qualquer lugar serve”. Já ouviu esta frase? Pois bem. Ela indica a falta de direção de boa parte das pessoas, principalmente, as mais jovens, que nem sempre têm a oportunidade de serem guiados por caminhos que os levarão a um futuro próspero. Formação que se inicia no núcleo familiar, se estende para a educação formal (a escola) e a educação informal (o cotidiano da vida em sociedade – comunidade, templos religiosos, espaços de trabalho, na academia e até no boteco). Nessa dinâmica de troca de saberes em sociedade, o sujeito aprende a se conhecer ou não. Por vezes, acaba fugindo de si próprio, deixando suas decisões serem conduzidas pelo achismo alheio.

Quando não se sabe o que faz sentido para si mesmo(a), a vida maltrata mais. A falta de direção é rotina do adolescente de classe baixa, de onde eu vim. Um lugar de informações limitadas e onde os pais têm pouco ou nenhum repertório para oferecer orientações sobre o futuro. Afinal, só se dá o que se tem. E seria injusto cobrá-los algo que não conheceram. Nesse caso, são os indivíduos em particular que precisam se autodirecionar. E apesar de ser mais desafiante operacionalizar uma bússola do que um GPS, é possível encontrar caminhos. Salvo, para muitos que nem à bússola têm acesso.

Frente ao mundo globalizado, que encurtou as distâncias, ter a tecnologia ao alcance das mãos e não saber usá-la para proveito próprio é um problema em potencial. É como se o barco estivesse à deriva e você fosse uma sementinha plantada em vaso com terra fértil, que tem poderes para movimentar-se no espaço livremente ou, se deixar movimentar. Seu objetivo seria brotar. Com o sacudir da embarcação, o vaso conduzido por você vai de um lado para o outro e acaba encontrando um canto do barco confortável, onde se acomoda, mas, está à sombra. Nesse caso, o melhor lugar seria o centro do barco, onde a luz solar ajudaria a sementinha brotar. Sem compreender o que seria melhor para chegar ao seu objetivo, a sementinha plantada naquele vaso, sem saber, se anulará, acreditando ser aquele lugar, o suficiente para si.

Assim, como na roda da vida, há espaços que te parecem seguros, mas, te apagam e impedem que você reconheça suas próprias potencialidades. De outro modo, lugares menos confortáveis, pode ser que ampliem sua visão e mostre-lhe o mar de possibilidades e direções a seguir.

Onde você escolheu estar nesse barco? Confortável em um canto à sombra ou desconfortável sob a luz do sol? Você está onde te parece seguro, mas, te limita o olhar ou onde te induz a ter que tomar decisões, mas, oferece-lhe liberdade e controle da direção? Pois é! O incômodo nos faz buscar pela mudança e essa necessidade nos faz movimentar. Ao assumir essa postura, você é chamado a tomar decisões. E a mais importante delas é conhecer a si mesmo(a) para saber para onde ir. O mais legal é que não existe idade para compreender isso e você não é o(a) primeiro(a), o(a) único(a) ou a última pessoa a contestar os rumos do próprio caminho. Enquanto há vida, há possibilidade de aprendizado, mudança e recomeço.

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