Janaína, rainha das águas: um expoente da causa ambiental no Vale do Mucuri

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Juliana Lemes da Cruz.
Doutora em Política Social (UFF).
Conselheira do Fórum Brasileiro de Segurança Pública.
Contato: lemes.jlc@gmail.com | @julianalemesoficial
Pelas bandas do Mucuri, Janaína não é a rainha do mar, mas, analogicamente, figura notável, digna de ser referenciada como a rainha das águas, da floresta, ou dos recursos naturais. Bióloga, dedicada à pesquisa e à docência, sempre exerceu seu trabalho técnico com confiança, assumindo a coordenação de grandes projetos.

Sob o perfil entusiasmado e contagiante, Janaína Mendonça vem colecionando conquistas relacionadas à sua principal especialidade, o meio ambiente. Rompendo barreiras simbólicas por ser uma mulher na liderança de grandes projetos, mostrou com resultados o alcance do protagonismo feminino com sua atuação tanto no Instituto Estadual de Florestas – IEF, onde atua há 17 anos, quanto no âmbito executivo municipal, onde esteve por 2 anos.

No início da carreira (Governador Valadares), em tempos que não se falava tanto em recuperação ambiental, entre os anos de 2006 e 2011, Janaína construía suas bases. À frente de uma iniciativa de repercussão internacional, com foco em áreas degradadas na região do Médio Rio Doce, a bióloga teve a oportunidade de levar suas vivências a público da Colômbia, Argentina, Honduras, Costa Rica, África do Sul e Alemanha. Para os leigos, a alteração brusca do clima parece coisa sem explicação. Para especialistas como Janaína, não. Parte considerável do que nos afeta e que se associa a fatores ambientais, nada mais é que o resultado da forma como os seres humanos tem se relacionado com o ambiente.

Apesar de sua incontestável capacidade, Janaína teve seus percalços. Como de costume, destaco o quanto lugares de poder são, historicamente, negados às mulheres. Geralmente, elas têm mais dificuldade de chegarem ao topo e quando chegam – caso de Janaína –, são contestadas ou limitadas por pessoas com ambições profissionais diversas e, não raro, retaliadas de inúmeras formas por pares e/ou chefias. Com Janaína não foi diferente. Geralmente, mulheres que são reconhecidas profissionalmente em espaços de poder disputados por homens, não são apenas boas, são acima da média. Assim, por consequência, com destaque em posições de poder, elas, certamente atuaram com tanta destreza que conquistaram legitimidade e credibilidade. Em resumo, no linguajar popular, invejosos não prosperam diante de pessoas que respondem às tentativas de apagamento com o trabalho de excelência.

Ressalta-se que nem sempre o ofício de Janaína foi prazeroso. Destacou o descontentamento no período em que trabalhou em Belo Horizonte. Na capital, se viu distante dos ambientes e pessoas que a motivaram a seguir adiante. Como resultado, o ganho de peso que chegou a 30 kg, perdidos em um esforço de 3 anos em outra fase de sua vida.

A “virada completa” ocorreu no ano de 2013, quando Janaína assumiu a Coordenação Regional do IEF, em Teófilo Otoni. Do alto, a bordo de um helicóptero, ela compreendeu o tamanho do desafio que teria. A realidade “nas alturas” mostrou à nova coordenadora áreas degradadas, de muita floresta ainda, mas, de destacada pressão de desmatamento. Com os pés no chão, Janaína percebeu a dimensão de outro aspecto: o nível de vulnerabilidade social e econômica da população. Lembro ao (à) leitor (a) que o Vale do Mucuri é uma das regiões mais empobrecidas de Minas, tendo municípios dentre aqueles com os mais baixos Índices de Desenvolvimento Humano – IDH, do estado.

Coordenando atividades que abrangiam 60 municípios e uma enxuta equipe, conseguiu no transcorrer de cinco anos de atuação (2013-2018), o resgate do papel de protagonismo ambiental do IEF, incorporando o enfoque social. Nesse período foi também presidente do Comitê de Bacias Hidrográficas dos Afluentes Mineiros do Rio Mucuri – CBH Mucuri. Em 2019, com a mudança de governo e condicionamentos políticos comuns às instituições estatais, conseguiu apoiar um movimento que impediu o fechamento da Instituição na região, o que custou sua saída daquela chefia.

No Mucuri, Janaína destacou que realizou sonhos. O primeiro deles, ter sido aprovada em 1º lugar no Mestrado em Tecnologia, Sociedade e Ambiente (TAS), da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri – UFVJM. Espaço onde desenvolveu uma pesquisa sobre políticas públicas na Área de Proteção Ambiental – APA Alto Mucuri. Outra vitória que se incorpora a esse período foi seu processo de emagrecimento, que iniciou com exercício em casa, reeducação alimentar, homeopatia e espiritualidade. O segundo sonho foi a compra de seu sítio, localizado em um “local de cura emocional e espiritual”, para ela e para os que visitam o lugar. O terceiro sonho foi a conclusão do mestrado iniciado.

E o quarto e mais pessoal desses sonhos foi o de ser mãe de uma forma muito especial. Janaína se tornou “mãe do coração” quando foi apresentada ao processo de adoção. Apaixonada com a possibilidade que sensibilizou seu companheiro, o Cadu. Em meses, chegou o Jean, filho biológico de uma mulher em situação de rua e inicialmente, portador de doença tratável. Como essa história da Janaína mãe será alvo da próxima edição da Coluna Interfaces, vou parando por aqui com o spoiler.

Ainda em Teófilo Otoni, em 2020, um novo desafio se apresentou por meio do convite do então gestor municipal para que assumisse a liderança da Secretaria Municipal de Meio Ambiente, que considerou “[…] a melhor experiência profissional da minha vida […]”, pela oportunidade de mudar a vida das pessoas. Janaína recebeu o título de cidadã honorária de Teófilo Otoni e tantos outros reconhecimentos por sua nobre atuação no território.

De tão legitimada nos seus feitos, Janaína foi convidada para atuar na capital. Em nova fase, tem contribuído com o Programa de Regularização Ambiental, o “PRA Produzir Sustentável”, carro chefe do IEF, que subsidia a implementação do Código Florestal, a legislação ambiental mais importante do país. A iniciativa já rendeu à equipe de Janaína, premiação e reconhecimento nacional. Com o compromisso de publicar a parte 2 dessa trajetória, vale lembrar que essa história de protagonismo feminino guiada por Janaína, representa força, resistência e resiliência, pelo exemplo incontestável de bravura, competência e compromisso no que se acredita. (Colaboração: @janaina_mendoncabio).

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