Grávidas devem manter acompanhamento durante pandemia

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Neste Dia da Gestante, Rede Fhemig reforça cuidados a esse público, mais vulnerável a infecções em geral

Em 2020, a covid-19 mudou a rotina em todo o mundo. A alta e rápida propagação do coronavírus resultou em medidas de isolamento social, como forma de evitar a sobrecarga de sistemas de saúde. Nesse cenário, maternidades como a do Hospital Júlia Kubitschek (HJK), da Rede Fhemig, passaram por uma série de adaptações para receber e tratar grávidas com suspeita ou confirmação da doença. 

A pandemia, as medidas de proteção, higienização e distanciamento e todas as consequências deste período trouxeram impactos e mudanças também nos planos para uma gestação. No sábado (15/8), data em que se comemora o Dia da Gestante, o momento é de  reflexão e alerta sobre todos os cuidados que elas devem ter, especialmente nesta fase, sobretudo por estarem incluídas no chamado grupo de risco.

“A covid-19 é uma doença inflamatória e, no primeiro e no terceiro trimestres, a gestação cria um ambiente pró-inflamatório no corpo da mulher que seria um ambiente favorável para o vírus. Além disso, outros membros da família coronavírus como MERS-CoV e SARS-CoV estão envolvidos em complicações na gestação”, explica a coordenadora da maternidade do HJK e médica obstetra, Ana Raquel Lara. As gestantes, portanto, compõem o grupo não por serem mais propensas a contrair o vírus que outras pessoas, mas por serem mais vulneráveis a infecções em geral.

Grávida com covid-19 – A esteticista Polyanne Soares, 25, passou por um desafio em sua segunda gravidez. Já mãe de um filho de dois anos, Polyanne levava com tranquilidade sua gestação de uma menina, até que, com 26 semanas, o mundo parou por causa da pandemia. “O consultório onde eu realizava o pré-natal fechou, e eu fiquei dois meses e meio sem atendimento. Fiquei muito preocupada com a saúde do meu bebê”, conta.

Polyanne, que continuou trabalhando em casa durante este período, reiniciou as consultas com um novo médico, mas, quando estava com 35 semanas de gestação, problemas começaram a aparecer. “Descobri que estava com diabetes gestacional, e que teria que adiantar o meu parto”, relata. Além disso, já se preparando para o momento de dar à luz, a esteticista começou a sentir sintomas da covid-19. 

Polyanne e a filha recém-nascida, Catarina (Arquivo pessoal)

Com falta de ar, cansaço, febre e perda do paladar, Polyanne teve a confirmação do contágio depois de saber que o pai também havia testado positivo para a doença. A ela, então, foi recomendado que permanecesse internada na UPA, onde ficou por três dias. De lá, foi transferida para o HJK e teve que ser internada no CTI. Na unidade hospitalar, a jovem começou a sentir as contrações do parto, que acabou acontecendo no dia seguinte. Segundo ela, o número reduzido de plaquetas, que impediu a realização de uma cesariana, resultou em um início de hemorragia durante o parto.

“Foi muito difícil, meu marido só pôde ficar comigo no momento do parto, e durante todo o resto do tempo eu estava sozinha”, conta. Felizmente, de acordo com Polyanne, no fim tudo deu certo e sua filha Catarina nasceu saudável. “Pude ficar com minha filha após o seu nascimento e amamentá-la normalmente”, afirma.

Após 20 dias do parto de Catarina, Polyanne agora pode cuidar de sua filha recém-nascida com tranquilidade, porém sem deixar de acompanhar e realizar tratamento para uma possível sequela da doença.

“A gente escuta tanto ´fica em casa’ e, às vezes, não damos importância para isto. Eu achava que a covid-19 era algo distante de mim, até que houve o primeiro caso na família e, de repente, 28 pessoas pegaram. Perdemos minha tia, e minha avó permanece internada. Eu não desejo para ninguém o que passei, estar grávida, em um CTI, sem poder falar com minha família, vendo tantas pessoas entubadas. Quando eu estava no hospital, tudo que eu queria era estar em casa”, desabafa a esteticista. 

Para outras mulheres que esperam bebês durante esse período de pandemia, Polyanne é enfática. “Cuidem-se, pois não sabemos o dia de manhã”, alerta.

Cuidados – Mesmo que o indicado seja o distanciamento social para ajudar a reduzir a curva de contágio, é importante que as gestantes continuem a realizar os exames de rotina. O pré-natal é um acompanhamento primordial e não deve ser interrompido durante a quarentena.

“Em locais de consultas, recomenda-se não levar acompanhante e manter 1-2 metros de afastamento de outras pessoas. Além disso, a gestante deve realizar os cuidados básicos: higienizar as mãos com frequência e usar máscara cobrindo o nariz e a boca”, salienta Ana Raquel. A profissional lembra, ainda, que a grávida deve permanecer em casa pelo maior tempo possível. 

Informações da Associação de Ginecologistas e Obstetras de Minas Gerais (Sogimig) recomendam, também, que os atendimentos reduzam o máximo possível da espera pela consulta, e que a gestante não precise ir ao local repetidas vezes. “A periodicidade das consultas e exames complementares devem ser suficientes para garantir o cuidado adequado de cada gestante, evitando excesso de visitas a locais com ambientes fechados e aglomeração de pessoas”, reforça a associação.

Os cuidados com a saúde em geral e a saúde mental são igualmente importantes para as gestantes nesta fase. “As orientações passadas são sobre ter uma alimentação saudável, e tentar também uma convivência saudável em casa em tempos de isolamento social, como, por exemplo, tentar encontrar uma atividade prazerosa que possa ser feita e, melhor ainda, em família”, recomenda a coordenadora da maternidade do HJK.
A médica obstetra ainda sugere tentar dividir as responsabilidades das tarefas domésticas com os demais membros da família para evitar sobrecarga física e mental à gestante, e manter contato telefônico com amigos e parentes que não residem na mesma casa. Ana Raquel lembra que ter uma rede social que apoie a gestante é fundamental nesse momento.

Hospital preparado – A maternidade do HJK, referência no estado para atendimento a pacientes com covid-19 ou suspeitos da doença, se preparou desde o início da pandemia para realizar o parto e o tratamento clínico de gestantes com segurança. O fluxo na maternidade foi alterado já na triagem, quando a paciente é questionada sobre sintomas respiratórios. Caso os apresente, ela passa por uma avaliação clínica mais detalhada em um consultório separado.

“Se a gestante não tiver que ser internada para o parto, ela é avaliada quanto à gravidade dos sinais e sintomas. Se a doença for leve, ela será liberada com uma receita, recebendo orientações sobre isolamento social e sinais de agravamento que indicam um retorno ao hospital. Se a doença for grave, ela poderá ser internada para investigação”, explica Ana Raquel.

Se, após a coleta dos exames, a suspeita de covid-19 estiver confirmada, as pacientes são separadas mais uma vez, sempre com muito cuidado para que suspeitas e confirmadas não se misturem. Os profissionais da equipe que atendem as gestantes com covid-19 ou suspeitas também não se juntam aos que atendem pacientes sem sintomas de síndrome gripal. 

As gestantes que dão entrada na unidade para ter o bebê, também passam por um fluxo diferente. Se for uma paciente com suspeita ou confirmação de covid-19, ela será encaminhada para uma sala pré-parto exclusiva, onde cabem até no máximo quatro gestantes. Neste local, a paciente permanece até o momento de dar à luz, quando é encaminhada à sala de parto.

O único espaço compartilhado por todas as grávidas é o bloco obstétrico, que é a última sala por onde passa o fluxo das gestantes. Mesmo assim, há todo cuidado para o que o acesso ao local pelas pacientes seja feito de forma segura: suspeitas ou confirmadas de covid-19 entram no bloco por uma porta diferente daquelas sem sintomas.

Após o parto, a paciente, já com o bebê e na presença de um acompanhante, é encaminhada à enfermaria exclusiva pós-parto, equipada com dez leitos, respeitado o distanciamento necessário.

De 17 de março  – quando a maternidade se tornou preferencial para gestantes, parturientes e puérperas com casos suspeitos ou confirmados de covid-19, no fluxo de responsabilidade do Programa de Parceria de Investimentos – PPI em Belo Horizonte) – até o dia 11 de agosto, foram realizados 209 atendimentos de urgência e emergência a casos covid-19 ou suspeitos na maternidade do HJK, sendo que 117 pacientes tiveram que ser internadas. Dos casos, 35% demandaram internação no CTI. Neste período, foram realizados 45 partos de mulheres confirmadas/suspeitas para covid-19. 

Emergências – As imprevisibilidades que podem aparecer na gravidez não devem ser ignoradas. Muitas gestantes podem ficar receosas em procurar o hospital no meio da pandemia, pelo risco de contágio, mas, em alguns casos, é preciso deixar a insegurança de lado.

“Caso haja algum sangramento vaginal, perda de líquido, ou se houver diminuição dos movimentos do bebê, a gestante deve comparecer imediatamente ao atendimento de urgência”, ressalta Ana Raquel. A indicação da via de parto deve seguir as características de cada caso. O médico deve definir o que for mais seguro para a parturiente e seu filho naquele momento, e a escolha dependerá das condições clínicas da mãe e do feto. 

(Agência Minas)

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