Já parou para pensar que a sua existência pode refletir no imaginário do outro seu próprio fracasso? Pois bem, parece coisa de quem tem mania de perseguição, mas, se pararmos para refletir sobre isso, essa pode colaborar em uma possível resposta à questão do título. Pouco se discute sobre esses aspectos porque não é fácil traduzir esse assunto em uma linguagem popular, para que todos tenham acesso. Em certa medida, esse tema é alvo do campo da psicologia, onde pessoas buscam terapia para aprenderem a lidar com as relações interpessoais tanto no âmbito particular, quanto no âmbito profissional.
Sem aprofundar no assunto, observando o que ocorre com algumas pessoas do meu círculo de convivência, percebi que o que eles refletiam para os outros dizia mais sobre quem os olhava do que sobre eles próprios. Assim, comecei a observar mais as relações estabelecidas entre as pessoas à minha volta e percebi que conflitos relacionados às percepções equivocadas de umas sobre as outras ocorrem com bastante frequência e com várias outras pessoas. Deduzi que o que outro absorve sobre nós não nos diz respeito e não nos cabe tentar alterar. Isso porque, trata-se de uma construção formulada a partir da vivência alheia. Por isso, muitas vezes, ouvimos comentários maldosos, tendenciosos e sem base sobre certas pessoas por parte de indivíduos que têm tantos defeitos quanto.
Toda crítica tem uma razão de ser e ela pode partir de um incômodo de quem critica pelo simples fato do criticado existir e ser quem é. O sucesso do outro incomoda àqueles que têm em si, frustrações frente aos próprios desejos. O objetivo não alcançado, o ego ferido, a vaidade não satisfeita, produzem e reproduzem comportamentos que escancaram o perfil de um fracassado: críticas descabidas a quem conseguiu o que pretendia; imposição de poder sobre pessoas de seu convívio, seja no âmbito doméstico, comunitário ou profissional; tentativas de diminuir o outro para que se sinta grande; blindagem de espaços, como um cão que vigia seu território de uma ameaça.
Aquele que o observa à sombra, parece irradiar um descontentamento sobre sua própria performance diante da vida, o que o leva a atribuir à existência do outro e seus bons resultados, a razão do seu inconformismo. Típico dos fracassados que, mesmo não sabendo ser sol, rejeitam o destino à sombra. Assim, esgotar a energia vital do semelhante que o inquieta e agir no intuito de diminuí-lo como pessoa, parece ser sua busca constante.
Comportamentos tóxicos, tal qual descrito acima, fazem parte do conjunto das relações interpessoais e costumam ocorrer entre pessoas com algum grau de proximidade. Essa relação envolve, inclusive, interpretações sobre a noção de amizade. Sobre isso, o Padre Fábio de Mello provoca uma necessária reflexão. Segundo ele, o amigo é aquele que suporta sua alegria. Enxergar com satisfação a felicidade do outro é tarefa mais difícil do que estar com ele no sofrimento. No sofrimento, até seu inimigo fica ao seu lado.
Na verdade, nem precisa ser amigo para vibrar com a alegria alheia, encorajar e fortalecer. Por esta razão, é tão importante a constante lembrança de que, quem vê como ameaça o brilho de alguém, precisa, com urgência, aprender a enxergar a própria luz. (Imagem: Edvan Santos, via @humorinteligente).