Eu quero! Mas, isso me faz bem? Dez perguntas para evitar ciladas relacionais

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Juliana Lemes da Cruz.
Doutoranda em Política Social – UFF.
Pesquisadora GEPAF/UFVJM.
Coordenadora do Projeto MLV.
Contato: julianalemes@id.uff.br

Amor ou cilada? Esta foi a chamada para um bate papo que fui convidada a participar como debatedora. O momento contou com as contribuições de Eduarda Khoury, psicóloga comportamental e a mediação de Tâmaro Mendes, psicólogo atuante na Universidade Federal dos Vales do Jequinhonha e Mucuri – Campus Teófilo Otoni/MG. A transmissão aconteceu ao vivo pela plataforma do Youtube do Centro Acadêmico de Medicina – CAMTO | https://youtu.be/ZinhQRMl7jo |.

Há alguns anos, profissionais como a Eduarda (Duda) e eu, dedicamo-nos ao estudo continuado das relações de gênero em razão das demandas que nos chegam. Elas surgem em forma de pessoas “despedaçadas” emocionalmente e exaustas de tanto lutar para transformar suas realidades. Trata-se de situações familiares que envolvem membros distintos, assim como inícios, meios e términos de relacionamentos afetivo-conjugais marcados por sofrimento e privação.

Reconhecemos! Não é simples falar sobre isso quando estamos expostos às condições que nos afligem. Por isso, temos a tendência de perceber o problema, primeiro, no terreno vizinho e só depois, se alertados, enxergamos o problema que está latente no nosso quintal. Esse nosso espaço, é o campo relacional, de sociabilidade. Onde apreendemos a convivência com outras pessoas em meio à dança inconstante da vida.

Uma das questões mais próprias do cotidiano e alvo de discussões em cada espaço de aprendizado social envolve relacionamentos íntimos de afeto. Aqui, enfatizamos as relações heterossexuais, mas, o discorrido, aplica-se também às homossexuais e/ou quaisquer outras que envolvam pessoas, suas pulsões vitais e afetos.

Nossos esforços foram para ressaltar ao longo do debate o quão necessário faz-se que as pessoas reconheçam os formatos de relacionamentos que estão se propondo a vivenciar. Eduarda e eu, pontuamos uma série de palavras-chave que direcionariam aos aspectos mais conflitantes das relações. Falamos do sentimento de ciúme e suas formas, por vezes, singela, de anular a individualidade de alguém; do quanto o ciúme expressa a insegurança do indivíduo sobre suas questões mais íntimas; e como este sentimento revela a dimensão do controle sobre o outro que, naturalmente, é absorvido em relacionamentos conjugais como algo aceitável e comum. Afinal, quem já não ouviu a expressão: “Se não tem ciúme de você é porque não te ama? ”. Estas e outras afirmações são corriqueiras e tendemos a absorvê-las sem qualquer questionamento.

Ocorre que, se alertas forem acionados no início dos relacionamentos afetivos, há possibilidade de se evitar a progressão dos ciclos de abuso ou, as ciladas relacionais. Mas, de que forma podemos identificar e barrar esse avanço? Pois bem. Exponho uma questão de partida e que foi sinalizada pela Eduarda durante o debate:

Mesmo que minha mente e meu corpo queiram estar com aquela pessoa, a situação que estou vivendo ao seu lado está me fazendo bem? Se a resposta imediata for não, repense essa relação que você aceitou para sua vida.

Para ajudar nessa empreitada, elaborei dez perguntas que pretendem ajudar o(a) leitor(a) a construir seus juízos de valor sobre os relacionamentos que se propõem a conduzir.
  1. No início da relação, eu precisei mudar meu comportamento de forma que eu bloqueei ou limitei algo que era, até então, muito importante pra mim? Sim? Repense!
  2. Quando eu percebi que estava mudando demais a minha forma de viver a vida e me relacionar com outras pessoas, eu fiz alguma coisa para preservar o que me fazia bem anteriormente? Não? Repense!
  3. Por qual (is) motivo (s) me submeti a determinadas situações se elas não estavam me fazendo bem? Foi pelo outro ou não sabe? Repense!
  4. Cheguei a buscar informações de como aquela pessoa se comportava com a (o) parceira (o) em relacionamentos anteriores? Não? Procure saber! Isso é cíclico e tende a se repetir com você.
  5. Negligenciei (fingir não ver) sinais iniciais que mostravam que aquela relação, mais cedo ou mais tarde, não iria dar certo? Sim? Qual a contribuição disso para o possível abuso vivenciado hoje?
  6. Abri mão da minha individualidade (não ouço mais as músicas que ouvia, não converso mais com pessoas que me faziam bem, não vou mais aos lugares que gostava…) para atender a vontade da outra pessoa em nome do relacionamento que construíamos? Sim? Resgate-se, priorize-se e não apague suas redes de apoio.
  7. Acredito (tei) que preciso (aria) encontrar a metade de minha laranja para ser feliz? Sim? Essa tal metade é um mito. Você precisa se sentir inteira (o).
  8. Preciso estar ao lado de alguém para encontrar um sentido de vida? Sim? Busque sobre autoestima e fortaleça seu amor próprio. O sentido de vida independe de outra pessoa caminhar ao lado.
  9. Ainda existe uma relação comigo mesma (o) estando nessa relação de afeto? Não? De tanto olhar para o outro, pode ser que você ficou egoísta consigo mesma (o) e já não se ouve ou se prioriza.
  10. Mantenho as contas das redes sociais conjuntas com o(a) parceiro (a) e/ou disponibilizo todas as senhas para que não se sinta inseguro (a) e/ou confie em mim? Sim? Não abra mão de sua privacidade por quem quer que seja.

As questões aqui pontuadas foram alguns ganchos possíveis de serem mobilizados quando tratamos de problematizar situações que envolvem ciladas relacionais ou abusos. Nos relacionamentos saudáveis, os indivíduos são protagonistas de suas vidas, somam-se um com o outro e não, anulam-se. Nessa dinâmica, três elementos básicos da relação afetiva são respeitados: 1) eu; 2) a outra pessoa; 3) o casal. O terceiro elemento é o resultado da soma do primeiro e segundo elementos, e jamais, o apagamento de um deles.

Contatos:

@dudakhoury |@julianalemesoficial |@mendescht

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