Adélcio Leite, o homem apontado como mandante da Chacina de Malacacheta, é assassinado em Lagoa Santa

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O atirador após fazer cinco disparos contra Adélcio fugiu em um veículo HB20 e ainda não foi localizado

Adélcio Nunes Leite foi morto a tiros na Rua Conde Dolabela, no Bairro Várzea, em Sete Lagoas, quando saía da barbearia
Adélcio Leite, ao ser preso em 1990 acusado de participar da Chacina de Malacacheta (foto: Vera Godoy/EM – 12/10/90)

Apontado como mandante da Chacina de Malacacheta, cometida em fevereiro de 1990, Adélcio Nunes Leite, de 70 anos, foi assassinado na tarde de sexta-feira, em Lagoa Santa, na Região Metropolitana de Belo Horizonte. O crime foi cometido na Rua Conde Dolabela, no Bairro Várzea. Segundo informações da Polícia Militar, Adélcio estava saindo da barbearia para se encontrar com a companheira, que iria buscá-lo, quando foi baleado. Ele estava armado com uma pistola e tentou reagir, mas não teve tempo. O atirador fugiu em um veículo HB20 preto, e até o momento não foi localizado. As testemunhas disseram que Adélcio era cliente do local e ninguém sabia nada sobre o passado dele.

Os policiais civis e militares já estão fazendo diligências em busca de informações de motivação e autoria do crime. A chacina é uma fonte. Adélcio Nunes Leite já esteve preso após ser acusado de ser o mandante da “chacina de Malacacheta” na década de 90, em Malacacheta, Vale do Mucuri. Pela dinâmica do crime, a Polícia civil acredita em acerto de contas.

O mandante da Chacina de Malacacheta estava morando em Lagoa Santa há três anos com a mulher. “Eles moram aqui há três anos, mas ele não tinha tido nenhuma passagem policial neste tempo. Não tínhamos informações sobre ele até então. A mulher dele falou que não sabia sobre o passado do marido e sobre essa chacina. Ela também não soube falar se ele estava sendo ameaçado”, explicou o tenente Nancer. Após o crime, agentes da PM foram até a casa da vítima e localizaram outras armas no local. “Encontramos dois revólveres, que estavam registrados no nome da mulher da vítima. Mas ela não explicou o porque tinha essas duas armas em casa”, contou o militar.

Chacina – A chacina ocorreu em função de uma disputa de terra em Malacacheta. Na ocasião, Adélcio teria contratado seis criminosos para matar sete pessoas da mesma família em uma fazenda da cidade. Adélcio foi condenado a 229 anos de prisão pelo crime. Ficou preso na Penitenciária Nelson Hungria, após 18 anos, foi solto, graças a um indulto presidencial.

30 anos da chacina de Malacacheta: fim de uma história de terror no Vale do Mucuri

Zé Leite e o irmão Adélcio no julgamento pela Chacina de Malacacheta (foto: Vera Godoy/EM – 21/8/97)

ESPECIAL – Trinta anos depois da maior matança do interior do Vale do Mucuri, Adélcio Nunes Leite, 69 anos, apontado como mandante da chacina de Malacacheta, foi morto a tiros em Lagoa Santa, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, na tarde de sexta-feira (17). A autoria e a motivação do crime ainda são desconhecidas. Tudo indica que a morte de Adélcio põe fim a uma era de crimes que aterrorizaram o Vale do Mucuri e que tiveram personagens de Governador Valadares envolvidos.

De acordo com a Policia, na tarde de sexta-feira, Adélcio foi até uma barbearia para cortar o cabelo. Ao sair do estabelecimento, foi surpreendido por alguns homens que estavam em um veículo HB20 de cor preta. Da porta do passageiro, um homem saiu com uma arma. Adélcio tentou sacar a arma que tinha na cintura, mas o assassino atirou duas vezes. Em seguida, entrou no carro e arrancou em alta velocidade. Até o momento, não há pistas do autor do assassinato.

Adélcio foi condenado como o mandante da chacina de Malacacheta. O crime aconteceu em fevereiro de 1990, na Fazenda Canadá, no Vale do Mucuri. A motivação seria uma briga por terras e rixas com pistoleiros. Adélcio havia sido condenado a 229 anos de prisão. Mas em 2013 foi solto da Penitenciária Nelson Hungria, em Contagem, após 18 anos em reclusão. Ele foi beneficiado pelo decreto da Presidência da República que concede, todos os anos, indulto a presidiários.

Soberania da Família Leite – No final da década de 70 e princípio dos anos 80, a região do Vale do Mucuri enfrentou uma série de assassinatos de proprietários rurais e pessoas residentes nas cidades de Água Boa, Malacacheta, Santa Maria do Suaçuí e Capelinha, crimes

atribuídos aos irmãos Leite, quarteto formado por Adélcio, Zé Leite, Alirio e Toninho Leite. A família comprava as terras na região e não saldava as dívidas. Ao todo, aos irmãos Leite são atribuídos mais de 40 assassinatos naquela região. Na lista de assassinatos está incluso o nome do ex-deputado estadual Wander Campos, morto em uma emboscada, em Água Boa, em 1974. O político tinha fama de pistoleiro e teve um desentendimento com a família Leite.

Emboscada no Aeroporto de Capelinha – Outro fazendeiro incluído na lista dos irmãos Leite marcados para morrer era Galileu Vidal de Oliveira. No entanto, eles tinham uma dificuldade para matá-lo, por residir em Governador Valadares. A família Leite tinha um acordo com o então coronel Jair Alves Pinheiro de não matar ninguém em sua região militar. Jair era o comandante do Batalhão PM de Valadares.

Como Galileu desconhecia esse trato, aceitou ir ao encontro dos irmãos Leite em Capelinha, onde selariam um “almoço da paz” para acabar com a rixa existente entre eles. Em dezembro de 1979, Galileu embarcou em uma aeronave no aeroporto de Valadares. Quando desembarcou para o “almoço de paz”, o fazendeiro se dirigiu em direção a Toninho Leite para cumprimentá-lo, sendo-lhe estendida uma mão enquanto a outra sacava uma arma, iniciando o fuzilamento. Galileu foi alvejado por 36 tiros. Muitos dos crimes atribuídos à família Leite foram arquivados por falta de provas ou de alguma testemunha que ousasse depor contra eles.

Rivalidade entre as famílias Leite e Cordeiro – A rivalidade entre as famílias Leite e Cordeiro teve início alguns meses antes do episódio da chacina de Malacacheta, em fevereiro de 1990. Toda a história foi relatada no documentário: “A Saga dos Irmãos Leite: História da Policia Operacional Investigativa”.

O Vale do Mucuri era uma região predominantemente de pecuária, com agricultura de pouca relevância no contexto econômico. Até cerca de 1985 era uma região sem asfalto e de difícil acesso. No período das chuvas ficava totalmente isolada. Para se chegar mais facilmente à região, segue-se a BR-262 até o trevo de Itabira, passando por Santa Maria de Itabira, Guanhães e São João Evangelista. Terra de cachoeiras, rios, córregos e muitas montanhas. E é nesse cenário que surgem os crimes de pistolagem, registros de fatos a partir dos anos 50, viajando pela saga de crimes violentos que assolaram aquela região, culminando com o desfecho da fatídica Chacina de Malacacheta.

O aviador e escritor José Altino Machado lembra quando começou a rivalidade entre as famílias Cordeiro e Leite. “Essa história começa lá atrás, em 1979, com a morte do político Wander Campos, e depois a do Galileu. Tudo por causa de uma moça, que foi a pivô da rivalidade, a Estael Cordeiro, que saía com o Wander. Daí começou uma matança, e continuou até a chacina em Malacacheta. A morte agora do Adélcio encerra esse ciclo que começou bem antes da chacina”, contou.

Chacina de Malacacheta – Em 89, um homem de cada família discutiu em uma estrada de Malacacheta. Toninho Leite e José Sexto Neto tiveram um desentendimento em uma estrada rural. Devido à briga, a família de Adélcio Nunes Leite contratou o pistoleiro Albino Alves Pereira para executar um integrante dos Cordeiros, mas o homicida foi morto pela família rival antes de apertar o gatilho. Ao saber disso, Hamilton Leite, amigo do pistoleiro, jurou vingança. Seis homens contratados pelos irmãos leite, trajando, cinco deles, coletes pretos e se identificando como policiais civis, disseram que estavam apurando a morte do pistoleiro e abordaram José Augusto de Andrade, na Fazenda Canadá.

Carnificina – Tudo foi planejado. O grupo levou a vítima até a casa de um parente, onde se encontravam a empregada da família e outros sete dos Cordeiro. Assim, iniciou- -se a execução das vítimas, de forma cruel, em diversos compartimentos do imóvel até no quintal. Adélcio Leite, que estava dirigindo seu Jipe, estacionou próximo da fazenda, na curva da estrada, observando se alguém tentaria fugir. José Augusto de Andrade, Eunice Augusta Cordeiro de Andrade, José Augusto Cordeiro, Nacip Augusto Cordeiro, José Sexto Neto e Núbia Florípes foram assassinados. Três pessoas da família conseguiram escapar da matança e relataram à Justiça. Depois dos tiros, os acusados fugiram, mas foram detidos.

O detetive Ofenir Pinheiro, o sargento da Polícia Militar Edésio e Carlinhos Pastor, os três de Governador Valadares, são citados como suspeitos contratados pelos irmãos Leite de participar da chacina. Os julgamentos aconteceram no decorrer da década de 90 e anos 2000. Na época, todos negaram envolvimento nos assassinatos. Outros membros da família Cordeiro foram assassinados posteriormente. Humberto Cordeiro e Helvécio Cordeiro foram sequestrados e brutalmente assassinados. Os principais suspeitos eram novamente os Leite. Depois das mortes de diversos membros da família Cordeiro, e dos diversos incidentes que indicavam novos atentados, eles se afastaram do Vale do Mucuri, buscando refúgio em Rondônia e Pará. Mas com promessa de vingança.

Fim dos irmãos Leite – Apesar de perseguidos por todos os cantos, os remanescentes da família Cordeiro encontraram forças para tentar acertar as contas com a família Leite. Em abril de 1990, Antônio Nunes Leite, o “Toninho Leite”, foi assassinado numa emboscada, com mais de 40 tiros. O crime ocorreu quando Toninho dirigia sua caminhonete pela estrada de terra que liga Capelinha a Malacacheta, próximo à Vila dos Anjos.

Em novembro de 1991 ocorreu mais um capítulo de sangue na vida dos Leite. Desta vez foi o assassinato de Helenísio Nunes Leite, de 18 anos, filho de Adélcio. O rapaz foi morto pelo vaqueiro Elias Abrantes Quadros de Sales, vulgo “Zé Guaxe”, que trabalhava havia 12 anos na Fazenda Boa Esperança, em Malacacheta, de propriedade dos irmãos Leite. Anos depois Zé Guaxe foi preso.

Reportagens do Diário do Rio Doce, revistas e jornais como “Estado de Minas” e “Hoje em Dia” registraram na época as ações policiais para coibir a pistolagem no Vale do Mucuri, com as primeiras prisões dos irmãos Leite e pistoleiros após a chacina. Em 1999, Alírio Leite foi preso no município de Vassouras/RJ. Era o último preso de uma família que desde os anos 50 matava no Vale do Mucuri. Alírio Leite foi condenado a cumprir pena de 126 anos de prisão, em regime fechado. Adélcio já havia sido condenado a uma pena acumulada de mais de 100 anos de prisão, depois do episódio em Malacacheta. Ali terminava a saga de fugas e prisões dos irmãos Leite. Nossos agradecimentos ao Diário do Rio Doce.

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