Mulheres na linha de frente: as experiências de Carla Eponina e Martha Honorato

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Juliana Lemes da Cruz. Doutoranda em Política Social – UFF. Pesquisadora GEPAF/UFVJM. Coordenadora do Projeto MLV. Contato: julianalemes@id.uff.br

Estudos mais recentes sobre os impactos causados pela Covid-19 em diferentes regiões do mundo mostram que as populações em situação de vulnerabilidade socioeconômica estão mais expostas à contaminação. Fatores que compõem a vida social fazem parte dos determinantes sociais em saúde, influenciando no processo de adoecimento da população. Na linha de frente deste enfrentamento encontram-se os profissionais da saúde. Tanto aqueles que trabalham diretamente com a busca ativa, visitando as pessoas em suas residências. Quanto aquelas que atendem à demanda espontânea, ou seja, que se dirigem a algum ponto específico para atendimento em tempos de pandemia. Nesta edição, conheceremos duas experiências relacionadas à prestação de serviço à população. A primeira, relacionada ao âmbito de atendimento privado em saúde, e a segunda, sobre a atenção básica no setor público de Teófilo Otoni.

Nossa primeira homenageada foi indicada por Gledston Almeida, profissional do campo da saúde que, sensibilizado com a luta diária de suas companheiras de serviço durante a pandemia, apontou duas colegas para representarem seus esforços nesse período. A experiência de uma delas, exibiremos a seguir. Carla Eponina Gomes atua como técnica de análises clínicas no laboratório da Unimed Três Vales em Teófilo Otoni. Ela é companheira do Rages e a mãe do Ruan, do Ryan e da Maria Cassia. Segundo Gledston, ela é “[…] uma jovem mulher, mas com uma tremenda história”, disse que ela ainda é avó de dois netos, conseguindo conciliar os plantões no laboratório com sua vida particular, mesmo com a rotina laboratorial tendo aumentado o volume de demanda em 80%. “[…] Mulher forte, de ética profissional exemplar, ela se tornou referência no plantão, pois domina todos os setores laboratoriais, e sem medo, entra no setor de Covid no pronto atendimento para realizar coletas seja de pessoas suspeitas ou positivas”.

Em contato com Carla, ela relatou que “[…] No início da pandemia foi bastante assustador”, pois teve medo e insegurança, tendo depositado sua fé em Deus para seguir à diante. “Amo o meu trabalho, não só pelo lado material, mais de alguma forma, sinto estar ajudando meu próximo ali no momento de trabalho. Ouço os pacientes,seus medos… e tento passar um pouco da fé que tenho em Deus e da paz que só Cristo, nesse momento, pode dar.” Gledston complementou sua indicação enfatizando: “Admiro minha colega de plantão. Melhor, sou privilegiado por estar no plantão com alguém assim”.

A segunda homenageada desta edição é a Martha Honorato, que é enfermeira atuante na saúde pública de Teófilo Otoni há mais de 20 anos. Ela é mãe do Laélio, acadêmico de medicina na Argentina. Dentre as atividades que desempenhou durante sua trajetória, atuou como técnica em enfermagem, após graduada, na coordenação da Atenção Básica e do Hiperdia, além de dedicar-se à docência no ensino superior. Martha ministra aulas e coordena o curso de Enfermagem de uma faculdade local, além de coordenar o PSF (Posto de Saúde da Família), atual Estratégia Saúde da Família (ESF), do Bairro Palmeiras. […] Diante da pandemia do COVID-19, tivemos que nos readequar e adaptar nossas atividades. Por outro lado, apesar das dificuldades estabelecidas pelo desconhecimento sobre o COVID-19, falta de estrutura e o impacto da doença entre os profissionais da saúde, não nos abatemos e buscamos dar continuidade nas ações desenvolvidas pelo PSF Palmeiras.

Martha relatou que desenvolveram o projeto COVIDA, tendo arrecadado alimentos e máscaras para moradores do Bairro Frei Dimas, dentro da área de abrangência do posto de referência. Mesmo com todos os esforços e prezando pelos cuidados para a não contaminação, “perdemos colegas de trabalho e pacientes queridos. Como se não bastasse, tive meu irmão, doente renal crônico, contaminado pelo vírus, vivi na pele a tristeza dos meus pacientes a cada vez que um familiar era contaminado. Senti o medo da morte e da perda”. Martha ainda complementa enfatizando que “[…] o momento faz com que o mundo reconheça o valor dos profissionais de saúde, do enfermeiro e da enfermagem e nos leva a repensar que é tempo de construir pontes, de deixar atalhos, de repensar as ilhas, de restabelecer valores, de compreender que, no cuidado à pessoa humana, somos uma equipe. Cuidar de pessoas e não de doença é o nosso lema!”.

Pelos exemplos positivos de Carla e de Martha, as quais, rendemos nossa homenagem pelos esforços e dedicação para com pessoas que sequer conhecem, é que enfatizamos a importância da campanha de valorização das mulheres na linha de frente no enfrentamento desta pandemia. Ao contrário do que muitos imaginam, a Covid-19 continua vitimando pessoas e desestabilizando as famílias. E, são estas profissionais quem, neste momento, sustentam as pessoas adoecidas e seus entes queridos. Seja com uma palavra motivadora aos que estão preocupados e com medo, seja pela segurança demonstrada pela técnica profissional no tratamento da saúde.

(Referência introdutória: PIRES, L.L., L., XAVIER, L.L. (2020). COVID-19 e Desigualdade no Brasil. Disponível em:  https://www.researchgate.net/publication/340452851 COVID-19_e_Desigualdade_no_Brasil).

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