Mais de seis meses se passaram desde o reconhecimento público da presença do novo coronavírus no país e os casos ativos da doença no município de Teófilo Otoni reacendem preocupações. Foram três óbitos noticiados nos últimos dias, dois deles, de profissionais da saúde. Os números apontam mais de uma centena de vítimas de complicações causadas pela Covid-19 no município.
Nesse cenário de constante incerteza, por diversas causas, o problema tem sido negligenciado. Dentre elas, a insistência de muitos em se aglomerar em espaços fechados e em ambientes de convívio social com grande número de pessoas. Os responsáveis e frequentadores de bares e ambientes de festas parecem desconhecer que estamos em momento de pandemia. Como se não bastasse esse detalhe, que ilustra as noites teofilootenenses e deixa perplexa parte da população que trata o problema com seriedade, o momento de campanha eleitoral complexifica ainda mais a situação.
Candidatos e candidatas negligenciam o problema, orientam o uso de máscaras de proteção facial como requisito à participação das caminhadas, mas não consideram que esta medida é apenas uma das medidas orientadas para prevenção da doença. Durante as caminhadas, o espaçamento entre pessoas não é respeitado, apertos de mão são demandados, abraços, cantos e gritos acalorados. Por outro lado, como culpar as coordenações de campanha por não criar novas estratégias para angariar votos, se tudo ocorreu de forma tão repentina? Como cobrar coerência dos candidatos, se a população desconhece outra forma de fazer política?
Pois bem, nesse cenário, são os profissionais da saúde, mais uma vez, quem recepcionam o resultado final das posturas adotadas pela população nesse período. A expressiva maioria desses são mulheres, que atuam na linha de frente do combate à pandemia de Covid-19. Por isso, permanecemos no esforço de valorização dessas mulheres, apresentando as histórias e relatos de algumas delas. Nessa edição apresentamos a Juliana Santana.
Nossa homenageada é enfermeira há 15 anos, formada pela UFMG. Mãe do Pedro de 9 anos e da pequena Laís, de 2. É casada, funcionária pública, atuante no Serviço de Atendimento Médico de Urgência, o SAMU e também no Hospital Municipal Raimundo Gobira. “O início da pandemia me trouxe incertezas, medos e mudança completa na rotina familiar. Trabalho na linha de frente do combate à Covid, principalmente no Samu e meu marido também é enfermeiro. Optamos por nos isolarmos dos nossos familiares para os protegermos. Nossos filhos ficaram com os avós por longos 6 meses e tínhamos contato apenas por chamadas de vídeo. Foram meses de muita angústia, choro, saudade, mas, permanecemos sempre focados no objetivo principal que era proteger a nossa família, nosso bem maior”.
O relato da Juliana remete a um sentimento coletivo de solidariedade à luta dos profissionais de saúde que precisam, por condição financeira ou por compromisso mesmo, deixar suas famílias para se doar ao trabalho para o bem de outras pessoas. Por outro lado, gera uma certa revolta, porque as ações inconsequentes que assistimos hoje, sacrificam é esse perfil de profissional. É como se a responsabilidade que eles têm para com o próximo não fosse importante a todos. Não é possível ler seu relato e não se incomodar com o que assistimos à nossa volta.
Nossa homenageada acrescenta que passou “[…] muitas noites em claro atendendo e transferindo pacientes com diagnóstico de Covid, fazendo desinfecções da ambulância que pareciam intermináveis, trabalhando no limite da exaustão. Mas, tranquila, de certa forma, em saber que meus filhos estavam sendo bem cuidados, recebendo muito amor dos avós”. Mais uma vez, como mencionado em edições anteriores, a importância da rede de apoio às mulheres para que consigam desempenhar seu trabalho, seja qual for, com tranquilidade nesses tempos tão difíceis. “[…] aos poucos, as transferências e atendimentos Covid estão diminuindo, meus filhos já estão comigo novamente. Foram momentos muito difíceis, angustiantes, mas, que serviram de muito aprendizado, resiliência e esperança de dias melhores”.
Por conta da possibilidade real, de tudo isso retornar, é que precisamos reafirmar a necessidade do compromisso e responsabilidade de todos no combate à esta pandemia. Não estamos livres da Covid-19, portanto, a batalha continua. Por meio dessa singela homenagem, nosso reconhecimento à Juliana, como profissional da saúde, mulher na linha de frente e pelo trabalho desenvolvido em prol da nossa comunidade.