Os 40 anos da mulher na PMMG

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Juliana Lemes da Cruz.
Doutoranda em Política Social – UFF.
Pesquisadora GEPAF/UFVJM.
Coordenadora do Projeto MLV.
Contato: julianalemes@id.uff.br
Fiat 147 e militares operacionais

Durante um evento na capital mineira há alguns anos, ouvi da palestrante argumentos que soaram coerentes aos meus ouvidos. A expositora era a Coronel PM Luciene, a primeira mulher da Polícia Militar de Minas Gerais a alcançar o último posto da carreira. Ela ingressou na corporação em 1981 como sargento, e dois anos depois, por meio de concurso, passou a integrar os quadros de oficiais.

Naquela ocasião, a Coronel Luciene contou sua experiência na PMMG e problematizava sobre o ingresso das mulheres nas corporações militares estaduais no Brasil. Disse o quanto era curioso o uso de uma bolsinha transversal, que continha uma arma de fogo que, a qualquer momento, poderia ser sacada pela policial durante seu turno de serviço. Se, por um lado, o ingresso da mulher na polícia foi um avanço para a época no âmbito da PMMG, de outro, foi uma estratégia de desconstrução da imagem desgastada das polícias estaduais que haviam acabado de sair do ápice do regime que marcou de forma intensa, a história política brasileira durante 21 anos.

A primeira turma de policiais femininas foi recrutada por meio de concurso público no ano de 1981. Exigia-se que as moças fossem solteiras, possuíssem 2º grau, e que tivessem entre 18 e 25 anos. Em 1982 formaram- -se 112 sargentos das 120 candidatas aprovadas nas provas escrita e física. Houve, na ocasião, mais de duas mil inscrições de candidatas ao ingresso na PMMG. Naquela década, outros estados da federação também incorporavam aos seus quadros as mulheres policiais.

Sobre a implantação da Companhia de Polícia Feminina, o Coronel PM Jair Cançado Coutinho, comandante geral da PMMG à época disse: “[…] Ela não irá fazer nenhum policiamento “ornamental”, se assim se pode dizer. Não será polícia de enfeite, de vitrine, mas Polícia efetiva, com presença nas ruas, nos logradouros públicos, nos locais de diversão pública, onde quer que haja necessidade. Suas componentes liberarão, assim, centenas de homens que se encontram neste tipo de serviço, com um envolvimento menor de riscos, para locais e horários em que a presença deles se faz mais necessária.” (MOMENTO CULTURAL PMMG BLOGPOST, 2021).

Do norte ao sul do país, as dificuldades das mulheres no desempenho de atividades historicamente realizadas por homens são incontestáveis. Pode ser que inicialmente, a mulher policial assumia um papel de cobertura de setores associados ao baixo risco de confronto, mas, com o passar dos anos, as mulheres incorporaram serviços associados à atividade fim que exigem alto grau de complexidade nas intervenções. Em que pese as diferenças biológicas, evidenciadas principalmente pela compleição física, as mulheres militares foram demandadas a romper paradigmas e preconceitos que as condicionava a certas tarefas e não a outras.

Com as mudanças sociais quanto à inserção de mulheres como trabalhadoras em várias áreas e setores, a distância entre as atividades desempenhadas por policiais masculinos e femininos vem se encurtando, conferindo espaço à possibilidade do exercício de determinadas atribuições às mulheres, respeitadas as diferenças entre os gêneros e respectivas limitações.

Decerto, a PMMG ganhou novos contornos na sua configuração a partir do ingresso das mulheres na corporação. Além disso, as quatro décadas de ocupação dos espaços comuns a homens e mulheres em uma instituição historicamente masculinizada e que completa neste ano 246 anos de existência, as mulheres ainda têm desafios latentes a superar em razão da inevitável chegada das novas gerações de policiais femininas à PMMG.

(Referência e imagens: Seção de Memória e Patrimônio Histórico e Cultural da PMMG. Disponível em:https://momentoculturalpmmg. blogspot.com/2021/01/ policia-feminina-recrutamento-e-selecao.html?m=1 . Instagram: pmmg_historiaecultura).

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