Para não tratar políticos como ídolos: diferenças entre apoiadores e fãs

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Juliana Lemes da Cruz.
Doutoranda em Política Social – UFF.
Pesquisadora GEPAF/UFVJM.
Coordenadora do Projeto MLV.
Contato: julianalemes@id.uff.br

A confusão coletiva de sentimentos torna-se perceptível diante das reações inflamadas por parte de apoiadores de alguns políticos. Ao passo que demonstra a paixão por determinada figura, que representa uma ideia, por outro lado, diz muito da imaturidade política dos indivíduos. A crença romantizada de que o escolhido mudará toda a realidade que já não lhe agrada, provoca falsas percepções. Trata-se da potência do imaginário de apoiadores que, sem perceberem, tornam-se fãs.

Fãs não contestam equívocos de ídolos. Eles buscam explicá-los. O fã, em regra, “passa pano” e isso é compreensível. Ser fã da Juliette do BBB 21, do Gabigol do Flamengo ou de um cantor de música sertaneja, talvez provoque defesas cegas e sem culpa. Trata-se de uma escolha individual, a partir da afinidade pessoal com o ídolo. As ações desses ídolos dificilmente comprometerão o curso da vida coletiva ou mudarão o sentido das coisas para as pessoas que não são seus fãs. Por isso, políticos não devem ter fãs, mas, apoiadores. Todos aqueles que, por meio de suas ações, têm o poder de mudar a vida das pessoas, não devem ter fãs.

A postura de fã faz com que cometamos equívocos e passemos do limite na defesa de nossas ideias. Apesar disso, sempre é tempo de refletir sobre as próprias atitudes e reconhecer que o(a) candidato(a) eleito não está de acordo com o que você acredita. A autorização a si mesmo para reavaliar suas próprias decisões, permite que nasça um apoiador e morra um fã. Apoiadores conscientes sabem que têm o dever de contestar equívocos, porque as ações do político de sua preferência afetam diretamente, a todos (seja apoiador ou não). Contestar não significa a defesa do oposto. Que fique claro: essa dicotomia, que produz crenças do tipo: “se não está conosco, está contra nós”, macula a ideia de democracia, que tanto nos é cara.

Trata-se de responsabilidade para com o outro uma vez que, um apoiador consciente aplaude, mas também, questiona e cobra. Por mais que admire a figura política que defende, é vigilante e lúcido. Esse perfil de apoiador não contribui para que o político escolhido acredite que pode fazer o que quiser da coisa pública e do seu voto de confiança. Mostra apoio, mas, nem tudo admite. Exerce, sem medo, seu direito de monitorar seu representante. Fãs não fazem isso. Fãs coadunam com quaisquer decisões de seu ídolo. Encontram explicações e as tornam verdadeiras.

A irracionalidade do fanatismo político mobiliza e atrai adeptos de dois tipos: os românticos (que creem cegamente nas boas intenções) e os oportunistas (que buscam favorecimento pessoal com a ascensão do ídolo). Quantos fanáticos você conhece? E de que tipo são? (Imagem: nanihumor.com).

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