Provas de masculinidade admitem mulheres como troféus

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Juliana Lemes da Cruz.
Doutoranda em Política Social – UFF.
Pesquisadora GEPAF/UFVJM.
Coordenadora do Projeto MLV.
Contato: julianalemes@id.uff.br

Não ser uma “mulherzinha” é uma das regras sociais impostas aos homens. Este é apenas um exemplo dentre as provas que eles são submetidos desde a infância, período em que a iniciação do garoto na masculinidade acontece. Nesta fase é que tudo o que se refere às mulheres é combatido e abandonado, para a construção da noção de que os homens são naturalmente superiores e para serem considerados homens, devem assumir a heterossexualidade, ou seja, desejar sexualmente pessoas do sexo oposto.

Para Daniel WelzerLang, autor francês que teoriza sobre as masculinidades, não há uma prova definitiva. Isso porque, os homens são provocados a demonstrar, a todo o tempo, o quanto são homens. Este autor associou o processo de construção das masculinidades a uma espécie de “casa dos homens”, onde cada cômodo teria uma prova diversa que o conduziria à passagem de fase. O ritual é realizado apenas entre os homens e envolve provas de embrutecimento físico e emocional, por meio de “brincadeiras” violentas e exaustivas. O choro, nessa circunstância é reprimido. Se o menino insiste, é nomeado de “menininha”, apelido de menor valor simbólico social. A competição desmedida é outra prova. Assim, é muito comum que vejamos homens competindo entre si sobre os mais diferentes aspectos: o carro mais potente, o melhor posicionamento no trabalho e também, o que “pega” a mulher mais gostosa.

Homens tendem a buscar, inconscientemente, a aprovação de outros homens e para tanto, precisam responder às regras criadas pelos próprios, no âmbito da “casa dos homens”. Lá, os homens aprendem que as mulheres são desejadas, mas, nunca, um homem pode desejar ser como elas. Nesse espaço de contratos masculinos, a camaradagem se destaca. Por isso, há solidariedade entre eles, mesmo nos momentos em que essa se transforma em cumplicidade de algo ruim a outrem. Homens validam outros homens e por isso, alguns, mesmo não concordando com as atitudes de seus pares, evitam confrontar se a questão envolve os privilégios associados ao masculino. Dentre os quais, a escolha de mulheres, como objetos, expostas em prateleiras do amor, onde adentram no circuito competitivo, como conquista – troféu, diante de outros homens.

Trata-se de relações de poder de homens sobre homens e de homens sobre mulheres. Em cada tempo histórico a ideia de masculinidade apresenta- -se de uma forma. Houve tempos em que o homem era valorizado por sua força física e coragem; em outros, por seu status e poder de compra; noutros, pela capacidade laborativa. No nosso tempo, as mulheres tornaram-se mais um dos elementos da disputa masculina por espaços de poder e protagonismo. Nessa direção, homens abominam o constrangimento diante de outros homens e aprendem o silêncio como forma de preservar a honra diante dos seus pares. Em nome dessa relação de “lealdade”, homens deixam de sair em defesa das mulheres ou de outro homem em condição inferior ao que o opõe. O silêncio impera e reproduz esse tipo de cumplicidade entre homens moldados sob a noção de masculinidade hegemônica. Estudos nesse sentido admitem que há formatos de masculinidade sendo constituídos de outro modo, saudáveis, com respeito entre os homens, frente a outros homens e às mulheres. Obra de referência: Saúde mental, gênero e dispositivos: cultura e processos de subjetivação | Valeska Zanello, 2018. Imagem: @ilustraclementine.

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