Mulheres na linha de frente: Marília Silva na Defesa Civil municipal

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Juliana Lemes da Cruz. Doutoranda em Política Social – UFF. Pesquisadora GEPAF/UFVJM. Coordenadora do Projeto MLV. Contato: julianalemes@id.uff.br

A campanha de valorização das mulheres na linha de frente no combate à pandemia de Covid-19 ainda pretende expor experiências de algumas mulheres do território do Vale do Mucuri que têm feito a diferença nesse período. Como resposta à nossa pergunta em uma das edições do mês de junho, obtivemos relatos emocionados de experiências de mulheres de setores, instituições, ocupações e realidades diferentes. Pode parecer óbvio dizer que as mulheres têm oportunidades de trabalho predefinidas e portanto, limitadoras de suas capacidades.

Mas, essa condição gera desigualdade e reforça a ideia de alguns “papéis” socialmente atribuíveis ao gênero masculino e outros, a feminino. O rompimento desse paradigma demanda coragem e persistência, principalmente para as mulheres. São elas quem, na sociedade moderna, ocupam a maioria das cadeiras universitárias, têm mais anos de estudo, representam 70% dos profissionais da saúde do país e ainda assim, continuam como em outros tempos, responsáveis pelas tarefas domésticas, cuidado com a família (crianças, doentes, incapacitados ou não) e pela maternidade – mesmo que “solo”. Por conta disso, mais do que relevante a exposição das experiências neste espaço, de mulheres que carregam condigo, a bagagem de uma vida marcada por limitações, negativas e desafios, mas também, por aprendizados, persistência e superação.

A homenageada desta edição é a Marília Silva Pereira, que atua na coordenação da Defesa Civil de Teófilo Otoni. Formada em educação física e gestão ambiental, ela é funcionária da prefeitura há 18 anos, microempresária no ramo de gêneros alimentícios (chocolares e pães). Mãe do Mairon de 22 anos, Marília considerou que se sobressair sendo uma mulher foi uma batalha que começou na família, que de predominância masculina, é a única filha, tendo mais três irmãos. Além disso, abriu mão de muitas coisas na vida para cuidar do seu filho que é autista.

Para trabalhar, conta com a conexão com outras mulheres, que a sustentam. Zuma e Rosária prestam o apoio que a permite romper a ideia de que as mulheres têm de escolher entre o sucesso profissional e a maternidade. Pelo contrário, é possível ter os dois. Marília, à frente da defesa civil tem visto o quanto a pandemia desestabilizou as famílias. Disse que enfrentou tudo com bastante medo, mas não ao ponto de desistir da missão. Ela busca “levar um pouco de conforto para as famílias que tiveram suas vidas sacudidas”.

A defesa civil trabalha levando o mínimo de dignidade às pessoas, disse Marília. Até como conciliadora de relações interfamiliares houve intervenção, uma vez que os ânimos estão mais exaltados. “Eu sou mais profissional do que pessoal. Tenho um filho que é lindo e maravilhoso pra mim. Ele é autista e recentemente descobri uma outra doença: a esquizofrenia. É um menino que só me dá vitória. Só ele para me colocar de pé e mostrar a força que a mulher tem de sobreviver sozinha com um filho e colocar ele no caminho certo […]”.

Marília se posicionou sobre a campanha MLF ressaltando o quão importante é mostrar para a sociedade essa “vitrine” de experiências, que expõe as mulheres e mostra para as outras que nossa função por aqui “é transformar, decidir e mostrar que a gente é capaz!”. Em razão da exposição ao contágio pela natureza do trabalho à frente da defesa civil, que em tempos de crise sanitária e humanitária é consideravelmente demandada, ela foi contaminada pelo novo coronavírus. Apresentou alguns sintomas, mas já está recuperada.

A Marília é apenas um exemplo dentre tantas mulheres que têm ricas histórias de vida e gentilmente, partilham. Faz-se necessário que outras mulheres saibam que não são as únicas a enfrentarem lutas diárias para ocupar os espaços que almejam na sociedade, sem a preocupação com o atendimento das expectativas sociais que tende a colocar mulheres e homens em “caixinhas”. E ainda, que apesar dos obstáculos, a prestação de serviços à comunidade pode se dar de forma qualificada e humanizada, levando em consideração as batalhas internas e externas que cada pessoa enfrenta. Nosso reconhecimento à Marília, pelo exemplo de vida e pela partilha da sua experiência.

3 COMENTÁRIOS

  1. 🙏 Queria agradecer a Juliana uma querida e ao Diário pela honrosa homenagem. E obrigada por ter me proporcionado essa oportunidade de está contribuindo com o crescimento e valorização da classe feminina. Não deixem que tirem nosso brilho. ” MULHERES, NÓS PODEMOS SER O QUE QUISERMOS SIM”

    • Marília, gratidão por nos permitir a exposição das suas batalhas e exemplar trajetória. Uma inspiração para outras mulheres.

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