Um saudoso amigo meu lá de Encruzilhada, quase um distrito de Coroaci, tinha uma particularidade interessante: aumentava a própria idade. De certa feita, completou cinquenta anos, mas se alguém lhe perguntava quantos anos tinha, ele nem titubeava e respondia de bate e pronto: sessenta! Assim, ele conseguia a admiração das pessoas. Seu Zarurzinho, o senhor com essa idade e aparentando tão menos! Qual o seu segredo? O que o senhor come? Quantas horas dorme? Que hábitos adota para se manter tão conservado?
Ele sorria matreiro e dizia que leva uma vida normal: trabalhava, comia tudo, dormia o necessário, bebia vez ou outra uma puríssima aguardente vinda lá do Mono – zona rural de Coroaci, namorava a esposa Tereza, enfim, dizia fazer um pouco de tudo. Com isso, ele arrancava suspiros e curtia seus minutos de glória.
Meu saudoso amigo Zoroastro Guedes de Medeiros “Zarurzinho” fazia o contrário de muitos que costumam diminuir a idade para parecer mais jovens. No caso desses, o efeito é o oposto do conseguido por meu amigo. Pensa-se, mas não se diz: só tem cinquenta e cinco anos, mas aparenta sessenta e cinco… O que fez para envelhecer tanto? É a pergunta que ficava no ar.
Noutros tempos, meu também saudoso amigo lá em Coroaci, José Ferreira de Oliveira – alcunhado “Duca do Sodi” e também de dona Elzita, perguntou-me como é fazer 55 anos. Disse-lhe, à época, que não doía nada e que é o mesmo que se fazer 30, 40, 50, 60. Tratava-se apenas de uma contingência do fato de se estar vivo. Ele apenas sorria. Envelhecer, meu amigo, é a coisa mais natural do mundo. Nada há de assombroso nisso.
De minha parte, faço questão de alardear meus sessenta e poucos, quase setenta é bem verdade. Acho esquisito alguém negar o tanto que viveu. É como se estivesse renunciando a parte de sua história, de suas experiências, de seu conhecimento, atributos que levaram anos para ser conquistados em troca de uma impressão alheia insustentável. Em vez de admiração, colhe-se decepção.
Sei que existem pessoas bem cuidadas que conseguem adiar o desgaste dos anos. Uma figura de setenta com aparência de sessenta. Conheço algumas! Por certo, elas nos têm a ensinar. Provavelmente vivem de bem com a vida e não devem se incomodar em revelar a idade. Até porque, diante do espelho, implacável marcador do tempo, fica difícil esquecer o quanto se viveu.
E como se lida com isso? Cada um da sua maneira. Meu saudoso amigo Zarurzinho – que se vivo fosse, que o diga!
Sobre o colunista: Aníbal Gonçalves é pedagogo, graduado em Administração Escolar, ex-diretor da Escola Estadual de Coroaci – MG [hoje Dona Sinhaninha Gonçalves] e professor de Filosofia, Sociologia e História da Educação. Foi chefe do Departamento de Educação Cooperativista da CLTO. Atualmente, jornalista e radialista da 98 FM (Teófilo Otoni) e colunista deste Diário Tribuna.