Entre o Céu e o Abismo: Manifesto Contra o Linchamento Virtual

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Por Jeferson Botelho
Delegado Geral de Polícia – Aposentado. Prof. de Direito Penal e Processo Penal. Mestre em Ciência das Religiões pela Faculdade Unida de Vitória/ES. Especialização em Combate à corrupção, antiterrorismo e combate ao crime organizado pela Universidade de Salamanca – Espanha. Advogado. Autor de livros

Resumo: Este texto reflete, com fidelidade e reverência, o pleno exercício da liberdade de expressão, alicerçado tanto na legislação interna quanto nos tratados internacionais. Fundamenta-se no artigo 5º, inciso IV, da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, em harmonia com o artigo 13 da Convenção Americana sobre Direitos Humanos — o Pacto de San José da Costa Rica — ratificado pelo Brasil por meio do Decreto nº 678, de 1992. Soma-se a isso a perfeita consonância com a Primeira Emenda à Constituição dos Estados Unidos da América, promulgada em 15 de dezembro de 1791, como parte da célebre Carta de Direitos. Tudo se dá sob o manto inviolável da imunidade de cátedra, assegurando ao pensamento crítico, à ciência e à docência a liberdade necessária para iluminar consciências e transformar sociedades. Nesse sentido, este ensaio literário e manifesto poético reflete sobre o fenômeno do linchamento virtual como a mais moderna forma de apedrejamento humano. O texto parte da reflexão do professor Jeferson Botelho para expandir a análise a um campo filosófico, sociológico e ético, denunciando a superficialidade das redes, o julgamento sumário e a erosão da empatia. A vida, comparada a uma roda gigante, revela que a ascensão e a queda públicas são apenas instantes no turbilhão da existência. O manifesto conclama à autenticidade e à resistência contra a lógica da turba digital, propondo que as pedras lançadas sejam convertidas em fundamentos para erguer castelos de dignidade.

Palavras-chave: Linchamento virtual; Tribunal digital; Dignidade humana; Resistência; Autenticidade.

INTRODUÇÃO

A lógica é simples e devastadora: um único evento, amplificado por algoritmos, é capaz de redefinir toda a narrativa de uma vida. Não importa o passado de dedicação ou a solidez de uma história — na era da viralização, a memória coletiva é seletiva e imediatista.

Do ponto de vista ético, trata-se de um colapso da presunção de inocência e do devido processo social. Do ponto de vista psicológico, os impactos podem ser devastadores, levando à depressão, ao isolamento e, em casos extremos, ao suicídio.

É urgente reconhecer que as redes sociais não são meramente canais de comunicação, mas arenas de poder e destruição simbólica, onde a vida real é afetada por sentenças digitais irrecorríveis.

A vida é uma roda que não cessa o giro. Hoje, o aplauso; amanhã, o silêncio. Hoje, o altar; amanhã, o esquecimento. No circo contemporâneo das redes sociais, o indivíduo é personagem de um espetáculo que ele não controla.

A mão que hoje te ergue é a mesma que, amanhã, apedreja. Os falsos amigos evaporam-se quando a tempestade digital chega, pois, no teatro da exposição pública, poucos querem ser vistos na plateia de um acusado.

E, no entanto, o amor da mãe resiste. É o último bastião quando a multidão se dispersa, o abrigo silencioso que não pergunta, não julga, apenas acolhe.

A vida, nesse cenário, não é um romance previsível — é um campo de batalha onde cada gesto pode ser eternizado e cada erro amplificado. Por isso, não se deve inflar com o louvor, nem murchar com a crítica. É preciso viver com propósito, transformar as pedras em alicerces, e lembrar que o tempo é regido por Deus, não pelos algoritmos.

Destarte, a vida, tal como uma roda gigante, alterna picos de glória e vales de dor. Em certos momentos, a sociedade escolhe seus ídolos: constrói mitos, coroa influenciadores e aplaude aqueles que, por vezes, nem ostentam o talento que lhes é atribuído. Por repetição, falsos atributos tornam-se verdades aceitas.

Por outro lado, há quem dedique sua trajetória à construção da paz social, ao cultivo de virtudes e à agregação de valores. Entretanto, basta um instante — o estalar de um dedo — para que tudo seja colocado em ruínas. A tempestade digital, movida a boatos e julgamentos instantâneos, desfaz anos de credibilidade.

Nesse cenário, os falsos amigos desaparecem como neblina ao sol; o apoio sincero restringe-se a poucos — e, muitas vezes, à mãe, porto seguro que resiste às marés.

A vida, nesse tabuleiro de interesses, não oferece refúgio nas mãos de terceiros, pois a conveniência e o cálculo utilitário imperam.

No palco das redes sociais, cada drama humano é matéria-prima para o espetáculo público. É nesse ambiente que se faz necessário lembrar: o passado deve ser superado, o presente vivido com intensidade e o futuro confiado ao tempo de Deus. Não se deve inflar com elogios nem sucumbir diante de críticas, mas viver com autenticidade e transformar pedras no caminho em degraus para um castelo próprio.

MANIFESTO E ANÁLISE CONTEXTUAL

O linchamento virtual é a fogueira acesa com um clique. Não há inquisidores visíveis, mas há milhões de dedos que apertam “compartilhar” como quem atira pedras invisíveis.

A lógica é selvagem: um deslize, uma frase fora do contexto, um boato não verificado, e todo um legado pode ser reduzido a cinzas.

O tribunal digital não se pauta por provas, mas por percepções. Não há direito à defesa, porque o veredito é instantâneo. Não há presunção de inocência, porque a indignação dá mais engajamento do que a verdade.

E a cada nova vítima, a turba alimenta-se de si mesma, como fera que se embriaga com o próprio sangue. A superficialidade da informação, a pressa de julgar e a ausência de compaixão formam a tríplice coroa da barbárie contemporânea.

O mais perigoso é que o linchamento virtual não destrói apenas reputações; ele reconstrói identidades conforme a lógica da narrativa dominante. O ser humano deixa de ser o que é para se tornar o que dizem que ele é.

E, enquanto isso, a sociedade digital assiste, ri, comenta, esquece… e espera a próxima vítima.

CONCLUSÃO

Diante do tribunal invisível das redes, ergamo-nos não como acusados indefesos, mas como construtores de castelos. Que cada insulto recebido seja pedra para a fortaleza; que cada silêncio covarde seja argamassa para os muros; que cada injustiça seja lembrança viva de que a dignidade não é negociável.

O linchamento virtual não é apenas um ataque — é um teste de resistência da alma. Sobrevive quem entende que a reputação é pública, mas a consciência é particular; que a imagem pertence aos outros, mas a essência é inegociável.

E assim, entre o silêncio e o grito, entre o aplauso e a vaia, que possamos caminhar com a cabeça erguida, sabendo que viver com autenticidade é, no fim das contas, a mais revolucionária das vitórias.

Pois, no dia em que não houver mais quem aponte o dedo, talvez não reste mais ninguém para estender a mão.

Portanto, na arena incandescente das redes sociais, onde cada palavra é registrada e cada ato potencialmente viralizável, a vida humana tornou-se espetáculo e a reputação, frágil cristal exposto ao público. O linchamento virtual, em sua fúria silenciosa, devora biografias e sepulta histórias sem conceder defesa.

A lição que emerge é clara: não se pode viver refém do olhar público. É preciso cultivar a serenidade diante do elogio e a resiliência diante da crítica. O passado deve ser lição, não prisão; o presente, campo fértil para semear; e o futuro, território sagrado de Deus.

Em meio à voragem digital, que cada pedra lançada seja usada como tijolo para erguer o próprio castelo. Porque, ao final, sobreviver com dignidade ao linchamento virtual é a mais épica das vitórias — não pela vitória sobre os outros, mas pela vitória sobre si mesmo.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BAUMAN, Zygmunt. Vigilância Líquida. Rio de Janeiro: Zahar, 2014.

BOTELHO, Jeferson. A vida e o linchamento virtual. Texto inédito, 2025.

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988.

BRASIL. Lei nº 12.965, de 23 de abril de 2014. Marco Civil da Internet.

HAN, Byung-Chul. No Enxame: Perspectivas do Digital. Petrópolis: Vozes, 2018.

LEVY, Pierre. Cibercultura. São Paulo: Editora 34, 1999.

SIBILIA, Paula. O Show do Eu: A Intimidade como Espetáculo. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2008.

Texto ajustado com apoio técnico da IA ChatGPT. Acesso em 15 de agosto de 2025.

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