Nossa Índia do dia a dia:Trânsito de Teófilo Otoni expõe abandono do poder público

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O trânsito de Teófilo Otoni, cada vez mais caótico, tornou-se um retrato do descaso das autoridades com a mobilidade urbana. Um trajeto que antes demandava cerca de 10 minutos, como o percurso entre a Praça Lions Clube e o bairro Grão-Pará, hoje ultrapassa facilmente 30 minutos. O problema, longe
de ser pontual, se arrasta há anos e revela a falta de planejamento e de responsabilidade dos gestores públicos. O chamado “horário de pico” na cidade já não pode mais ser considerado restrito: vai das 6h30 às 19h30, praticamente o dia inteiro. Motoristas, motociclistas, pedestres e até ciclistas enfrentam diariamente congestionamentos, desorganização e risco de acidentes, sem que nenhuma ação efetiva seja tomada pelo poder municipal. O início do colapso é apontado por muitos como consequência
da mudança promovida em 2006, quando a Teotrans deixou de ser uma autarquia com poder de fiscalização para se tornar apenas uma divisão de trânsito. Na época, o então prefeito Getúlio Neiva atendeu a pressões populares contra multas de trânsito. Resultado: em vez de corrigir comportamentos irregulares, a administração retirou os instrumentos de controle, deixando a cidade entregue ao improviso. Na gestão atual, a desordem alcançou o ápice. Por decisão judicial, o contrato entre a Prefeitura Municipal e a SPE Park, empresa responsável pela gestão do estacionamento rotativo, foi
encerrado. A medida representou um retrocesso significativo. O estacionamento rotativo é considerado fundamental em centros urbanos por trazer benefícios como maior disponibilidade de vagas, dinamismo no comércio local, geração de receita para o município, oportunidades de emprego para dezenas de jovens, além de organização e fluidez do trânsito. A ausência desse sistema agrava a escassez de
vagas no centro e intensifica a confusão no tráfego. Não estamos dizendo que a SPE Park devesse continuar, mas a Prefeitura deveria ter, no mínimo, uma ação que fizesse o tráfego melhorar, e não
deixar as coisas como estão. Soma-se a isso o fluxo constante de carretas circulando por ruas estreitas
do centro, pouco mudadas desde a construção das vias no século XVIII, o que evidencia a falta de qualquer planejamento urbano compatível com as demandas atuais da cidade. O cenário de abandono se agravou após a pandemia, período em que motoristas se acostumaram a desrespeitar semáforos e regras básicas de circulação. Sem fiscalização, infrações como avanço de sinal, estacionamento em fila dupla, motos em contramão e caos em frente às escolas se tornaram rotina.
A omissão do poder público é evidente. Agentes de trânsito, vereadores e gestores parecem não vivenciar a realidade das ruas, ou preferem ignorá-la. Para completar o quadro, cresce a circulação das chamadas
bicicletas elétricas, ainda sem regulamentação, disputando espaço entre carros e pedestres, aumentando
riscos e desordem. O resultado é um trânsito desgovernado, que rouba tempo e paciência dos cidadãos
e expõe o descompromisso das autoridades municipais com um problema que impacta a vida de todos.
A cidade clama por planejamento, fiscalização e coragem política para enfrentar interesses e priorizar
a coletividade. Enquanto nada é feito, Teófilo Otoni segue afundada em seu próprio caos — a “Índia do Vale do Mucuri” — onde cada saída às ruas se torna um teste de paciência e sobrevivência.

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