Dia dos Enamorados

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Aníbal Gonçalves – Pedagogo

Lá pelos idos de Junho de 1949 um publicitário trouxe do exterior uma campanha com o slogan “não é só com beijos que se prova o amor”. A ideia se expandiu pelo Brasil e até os dias atuais é utilizada pelo comércio para incentivar a troca de presentes entre casais de namorados.

Pois bem, em meio a essa pandemia do novo Coronavírus e para combater a apartação que a Covid-19 nos trouxe, achei uma válvula de escape para não ficar algo sorumbático, diria.

Então, hoje (e bem que poderia ser aqui e alhures) resolvi criar o dia dos Enamorados. Não, não, ele ainda não passou e, sem fazer as contas, preciso fazer de contas. Vamos lá, fazendo de contas, por assim dizer, a imitar alguns poucos casais de apaixonados que ainda existem por essas plagas.

E aqui vou cometer uma inconfidência e compartilhar com você a minha vontade, ainda que efêmera…

No dia dos Enamorados vou tentar namorar. Vou tentar namorar porque simplesmente me deu vontade. Porque preciso ser feliz ainda que tão somente por um dia. E acredite, à noitinha, ela adentrará o meu quarto e num repente amoroso, há de me tascar um ávido beijo na boca. Surpresa mais deliciosamente agradável, confesso, há tempos eu não tinha. Nos beijamos, nos abraçamos e só não poderei contar todo o resto que fizemos por haver solenemente jurado guardar segredo. Afora as ardentes carícias, nem dei a ela presente, fosse vestimenta ou uma caixa de chocolates amargos. Sequer lhe escrevi um poema. Afinal, já fazia um bom tempo que ela não aparecia em meus devaneios.

Naquela noitada sonhamos todos os sonhos possíveis e impossíveis. Alguns foram gratamente, prazerosamente realizados. Outros tantos ficaram no plano do onírico. Ela, sempre bem humorada, com a castanha luz dos olhos seus brilhando, me afagava, sussurrando que sou o seu mais saboroso lenho.

Poderíamos, nesse dia dos Enamorados, ter fugido de casa, só nós dois, a namorar por aí, caminhando pelas ruas de Teófilo Otoni, Coroaci ou Pavão, de mãos dadas, até chegarmos numa pracinha modesta, mas acolhedora, com flores de todas as cores e diante dos olhares espantados dos passantes, a gente se beijaria longamente, despudoramente como quem descobriu o amor recentemente.

Não, ela me diria. Nada de ficarmos completamente isolados do mundo. Antes vivê-lo, compartilhá-lo com os outros casais enamorados como se reparte um pão, cada um de nós sendo cada vez mais cada um. Decidiríamos então não sair do nosso amoroso refúgio para nenhuma comemoração, como se o dia dos Enamorados não passasse de um dia qualquer, comum, rotineiro e, ao mesmo tempo, dotado de suma importância por ser um dia que vivemos juntos.

Nós dois aprenderíamos, não sei se tarde demais ou muito cedo, que amar não significa anular-se diante do outro. Desistir do nosso Eu, amoldar-se à ideia e semelhança do outro. Amar, teria me sussurrado a amada, é entregar-se, é dádiva, oferenda. Quão sábia foi ela, ao me falar tais palavras.

Falou-me, ainda, que o amor exige um tantinho que seja de mistério, sedução, surpresa, descoberta, cumplicidade, companheirismo. E assim, eu e ela avançamos pela noite adentro, vivendo com intensidade de pura chama o que nos foi sendo dado viver. Não existiu, entre nós, receio algum de cruzar essa ponte entre dois abismos a que chamamos de amor. Falamos do presente e das loucuras que fazemos. E ao chegarmos ao imprevisível capítulo do futuro, ambos emudecemos e nos beijamos outra vez como fazem os enamorados.

E você, como viveria o dia dos Enamorados..?

Também faria de contas..?!

Aníbal Gonçalves é pedagogo, graduado em Administração Escolar, ex-diretor da Escola Estadual de Coroaci – MG [hoje Dona Sinhaninha Gonçalves] e professor de Filosofia, Sociologia e História da Educação. Foi chefe do Departamento de Educação Cooperativista da CLTO. Atualmente, jornalista e radialista da 98 FM (Teófilo Otoni) e colunista do Jornal Diário Tribuna.

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