São tantos os motivos porque eu escrevo… Escrevo para desafogar um sentimento que corrói e que precisa vazar. Por saudade de minha Coroaci ou melancolia. Por desassossego. Para afastar a ansiedade.
Escrevo para expandir o espaço do sonhar. Para transformar o mundo lançando grãos de ideias que irão sedimentar outras tantas a espraiar pelos caminhos da transformação. Ou seria da autotransformação?
Escrevo porque assim me sinto vivo. Ah!… uma confissão: sou daqueles que precisam de um beliscão todos os dias para se sentirem vivos. Porque respiro – já ouvi um poeta dizer.
Escrevo porque escrevo. Escrevo para sensibilizar você. Para aturdi-lo, aturdi-la. Para provocar sensações diversas. Contraditórias, por que não?
Talvez eu escreva para preencher o que falta. Para dar significado à existência. Quem sabe, para construir a minha própria identidade e reduzir a minha inexorável fragmentação. Escrevo para dialogar. Conseguir amigos. Aliviar a solidão. Ah!… a solidão.
E ela me diz que agora existe para me atormentar no bom sentido, dando-me um cheiro, deixando-me arrepiado.
Escrevo sem pretensão alguma, só pelo desejo de brincar, de entreter, de comprazer. Clarice Lispector, por exemplo, avisa: “Escrevo porque encontro nisso um prazer que não consigo traduzir. Não sou pretensiosa. Escrevo para mim, para que eu sinta a minha alma falando e cantando, às vezes chorando…”
Pela busca da beleza, da ética e da estética, eu escrevo. Nesse propósito, Cora Coralina pretendia, no texto imprevisto, “atingir a perfeição inalcançável”. Ah!… e, claro, escrevo também por vaidade. Quem não nutre, mesmo que no recôndito da alma, o desejo de merecer a admiração de alguém?
Um pouco de tudo isso me move a escrever.
Mas ainda resta contar um segredo para você.
Existe uma última motivação, pouco confessada por quem escreve: escreve-se pelo apego à vida, na tentativa vã de afugentar a morte. Ah!.. que vontade de permanecer!… Esticar a palavra, postergar o fim. Sem esgarçar, sem esmorecer! Transcender o hoje no leitor do amanhã. Ele, do outro lado da margem, debruçado sobre essas linhas, a entrever o momento em que escrevo. Quem sabe, sorri o leitor [a leitora] ou não; restrinja-se a franzir a testa… Incompreensão, rejeição? Pouco importa. Ainda assim, me agarro, ao meu bote de salvação!
Aníbal Gonçalves é pedagogo, graduado em Administração Escolar, ex-diretor da Escola Estadual de Coroaci – MG [hoje Dona Sinhaninha Gonçalves] e professor de Filosofia, Sociologia e História da Educação. Foi chefe do Departamento de Educação Cooperativista da CLTO. Atualmente, jornalista e radialista da 98 FM (Teófilo Otoni) e colunista do Jornal Diário Tribuna.