Fachada: o lado situado no exterior. O que é visto de forma primeira. O escancarado. E é bem verdade que, embora nem sempre haja sintonia entre o que há de fora e o de dentro, por aqui isso é quase um postulado. A concordância é nenhuma, ou quase.
O ceticismo exposto esconde a utopia do amor. A boca que alardeia tendência poligâmica na verdade quer viver pra sempre no mesmo colo. O cérebro que muitas vezes calcula o tamanho do passo queria mesmo era pular. Às vezes mergulhar de cabeça. Inconsequência. Anda, calcula, mais por medo do que por convicção. Raramente convicção.
O coração grita, exige atenção e, embora a receba de madrugada, na luz não tem a mesma sorte. É calado a cada volta do ponteiro. Que vergonha, ora, diz ele para si mesmo. Isso não existe, diz ele, querendo acreditar. Nega, balança a cabeça. O coração cobra na madrugada, mas já é tarde demais. Acostumado a afirmar fatos e certezas, discorre sobre sua opinião como um jornal expõe um fato, mas omite suas inseguranças. Na verdade, não sente nenhuma certeza.
Às vezes deixa passar, sem querer, a voz do coração que só surgia no escuro, mas logo retifica, alegando engano. Pergunta-se: até quando vai durar todo esse peito de aço, mas esquece e segue. Na verdade, não esqueceu. Que linda essa fachada! Vale a pena?