Domingo, dia de feriado universal. De trabalhar vontade nenhuma eu tenho, para ser sincero. Mas de gozar a folga tradicional em toda a sua plenitude. Passar o dia de pernas pro ar, sem fazer absolutamente nada de prático como algumas pessoas fazem. Viver o ócio, isso sim…
Vejo pessoas, que mal conheço, tirando os seus carros da garagem com um ar tão feliz estampado nos rostos que chega a me dar uma tímida inveja desses alegres felizardos ansiosos por uma gandaia. Mas eu prefiro restar no confortável sossego do lar, acompanhado de filmes e a indispensável televisão por assinatura, um dos meus poucos luxos de agora.
Não é que eu pense que lugar de um sessentão é mesmo em casa ou junto com seus iguais, em torno de uma mesa dos bares preferidos, conversando sobre nossos semelhantes interesses em comum.
Tirando pequenos problemas concernentes ao quesito lazer, é-me impossível fugir, apesar de ser domingo, da labuta de apresentar meu programa na rádio 98 FM [das 8 às 10 da manhã].
Tem nada, não. E agora que veio a minha merecida aposentadoria, meu exaurido cérebro finalmente entrou no ansiado descanso. Mas eu continuo lavorando, futucando cotidianamente o juízo em busca de assunto para traduzir em palavras feito um padeiro preparando o pão do espírito. Desculpem-me, se acaso puderem, se estou sendo um tanto quanto repetitivo ao falar dos domingos nestas mal traçadas. Porém, cada um escreve do jeito que pode e não como desejaria.
Que bom seria, caso houvesse em mim a capacidade de escrevinhar uma obra prima a cada jornada. Entanto, estou muito aquém de tal magnífica condição de ser um escriba genial. Uma de minhas raras qualidades é reconhecer as minhas literárias limitações.
Estarei eu a divagar, perdido entre tolos e ingênuos pensares? E se realmente estiver equivocado, que mal me podem causar tais distraídas divagações, essas elucubrações sem qualquer utilidade pragmática. Tudo o que se pensa tem alguma serventia. Preencher o vazio e evitar o tédio e me fazer praticar o saudável exercício de rir de mim mesmo
Aníbal Gonçalves é pedagogo, graduado em Administração Escolar, ex-diretor da Escola Estadual de Coroaci – MG [hoje Dona Sinhaninha Gonçalves] e professor de Filosofia, Sociologia e História da Educação. Foi chefe do Departamento de Educação Cooperativista da CLTO. Atualmente, jornalista e radialista da 98 FM (Teófilo Otoni) e colunista do Jornal Diário Tribuna.
