Na prática a teoria é outra: a cilada do discurso fake

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Juliana Lemes da Cruz.
Doutoranda em Política Social – UFF.
Pesquisadora GEPAF/UFVJM.
Coordenadora do Projeto MLV.
Contato: julianalemes@id.uff.br

Palavras bem empregadas têm o poder de envolver de forma importante quem as ouve. Isso porque, o discurso carregado de emoção, embasamento e sentido, interage com as mais íntimas idealizações, produzindo expectativas. Nada mais comum que, em tempos de redes sociais, isso aconteça com mais frequência. O maior desafio de quem recebe uma mensagem no formato virtual é filtrar a informação e identificar até que ponto ela procede. Isso se torna mais difícil quando a narrativa que molda um determinado discurso parece ser realmente a expressão de uma verdade.

E o que há de cilada nisso? Pois bem, há a possibilidade do compartilhamento de um equívoco, moldando uma postura idealizada de uma pessoa que se utiliza de argumentos alheios à sua prática. Trata-se de ideias alinhadas a uma certa teoria, que, na verdade, quem as defende, não é capaz de efetivá-las. Em resumo, na prática, a teoria é outra.

Por um lado, encontra-se relacionado ao perfil de alguém que reproduz um discurso automático e pronto para responder aos estímulos do grupo que quer se sentir parte. Isso ocorre, por exemplo, no contexto político partidário, onde os respectivos adeptos compartilham informações falaciosas e reproduzem argumentos a partir de discursos que não saem do campo ideológico.

Por outro lado, refere-se ao perfil daquele que tem interesse em reafirmar seu discurso como forma de posicionamento sobre certo assunto, uma vez que vê vantagem nisso. Assim, deixa de colocar seu discurso em prática por questão de escolha. Nesse caso, o sentido é a indução ao erro, um discurso fake, mentiroso e tendencioso.

A cilada também está onde não se procura, em nós. Um discurso desvinculado da prática que o legitima pode ser identificado por meio da autocrítica. Questionar nossas próprias posturas talvez não seja um hábito, porque incomoda. No entanto, faz-se necessário em tempos de produção de discursos fake com o exclusivo propósito de turbinar o potencial de engajamento em determinadas redes sociais.

Nesses cenários, o conteúdo do textão que traz uma irretocável argumentação, é o que será esquecido antes mesmo de ser cogitado para ser colocado em prática. É onde, os 15 segundos de vídeo que ilustram o que as pessoas querem ouvir, não dizem respeito ao que elas realmente serão capazes de efetivar. E isso não ocorre apenas no âmbito virtual, os desdobramentos dos discursos fake transcendem o mundo dos algoritmos, refletindo nas nossas relações interpessoais. Mais do que nunca, no mundo real, na prática a teoria das redes tem se mostrado outra. Imagem: http:// jundiagora.com.br/discurso/

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