Meninas Bugres

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Luciano Alberto de Castro
Escritor e professor da Universidade Federal de Goiás,

é mestre em odontologia pela Universidade Federal
de Goiás (UFG), Doutor em ciências da saúde (UFG),
Professor adjunto da Faculdade de odontologia da UFG

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Embrenharam-se os homens na mata

Fechada, fosca, folhuda

Mata bruta do Mucuri

Montados em potros ligeiros

Entraram a caçar os bugres

Rudes, selvagens, antropófagos

É o que dizem por aqui

Não viram o bicho-tupi

Mas acharam duas cunhãs

Sozinhas, se banhando no rio

Nuas, iguaizinhas, irmãs

Nuazinhas, se refrescando do estio

Pegaram as bichinhas

No laço

E arrastaram pelos caminhos

Levaram as cunhãs

No compasso

Pisando em pedras e espinhos

Na sede, separaram as duas

Fico com a maiorzinha

Disse o patrão satisfeito

Olhando-a de cima a baixo

Que faço com a menorzinha?

Retrucou o peão contrafeito

Leve e venda pro Inácio

Trancaram a indiazinha num quarto

Puseram-lhe peia nos pés

Até virar gente, amansar

Até o patrão vir lhe usar

O patrão viu a pequena aimoré

Parda, nuazinha, de pé

Os cabelos pretos lisinhos

Escorrendo pelas espáduas

Linda, lisinha, a bichinha

A vergonha tão saradinha

Como iria resistir?

Eu sou feito é de carne e osso

Mas principalmente, sou carne

Depois comentou com o compadre

Não sabes, rapaz, o deleite

De furar a bugrinha com azeite

Passaram-se várias luas

Passaram-se vários sóis

E quando é tempo de estio

Índia velha põe-se a cismar

Lembra do banho de rio

Entoa um canto no ar

Doeu-lhe a argola do laço

Que lhe bateu

Na cabeça

Inda mais doeu-lhe o aço

Que lhe arrancou

A inocência

Ficou velha

Feia

Sem dentes

Pariu várias vezes

Várias gerações, várias gentes

Minha vó foi pega no laço

Diz o rapaz sem saber

Das brutalidades mofinas

Com as pobres índias meninas

Cunhãs botocudas

Cunhatãs aimorés

Meninas Maxakali

Pobres meninas bugres

Do vale do Mucuri.

Goiânia, agosto/21

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