Batalha perdida…

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Aníbal Gonçalves – Pedagogo

Mais um final de semana que passou. Mais um final de semana que vivi ou sobrevivi e agradeço mui penhoradamente essa vital oferenda a Deus, apesar dos últimos reveses pelos quais andei atravessando. Há semanas que se esvaem, que se esvanecem numa rapidez tamanha que mal chegamos a nos dar conta de sua meteórica passagem.

Amanhece, entardece, anoitece como as cenas de um filme projetadas em alta velocidade. Este final de semana foi um desses, tão cheio de pressa feito estivesse atrasado para o contínuo encontro antes da hora marcada com o próximo.

Talvez porque se trate de um final de semana em que estive na encantadora e pacata Pavão, em meio a uma profusão de inúmeros dedos de prosa, como, por exemplo, com seu Antônio de Evinha, sempre afável e cortês. Outra prosa das mais agradáveis foi com o casal seu Domício e dona Jordelina.

Somos, na verdade, uns escravos do tempo e essa gasta expressão, a qual gostamos tanto de usar, “passar o tempo” trata-se de uma simplória inverdade. Nós jamais “passamos o tempo” nem o gastamos. O tempo é que nos passa e gasta.

Quando percebemos, quando compreendemos isso, por vezes é muito tarde, tarde demais, podem acreditar. Um belo dia somos jovens, esbanjando saúde, vitalidade, sonhos a granel. No outro, nos olhamos ao espelho, ocupados no prosaico ato de barbear-se e vemos, espantadíssimos, refletir-se a cara enrugada de um integrante da Melhor Idade, de ralos cabelos embranquecidos e sonhos menores do que já fomos capazes de acalentar. Os dias passam, pois seu mister é passar. Vão nos legando suas marcas indeléveis em nosso corpo e em nosso espírito. O tempo é um tatuador do inesperado que nos faz perguntar: o que aconteceu comigo?

Ora bolas, meu caro leitor, minha prezada leitora. Aconteceu com você exatamente o que costuma acontecer com todas as gentes. Simplesmente o tempo lhe pegou pelas goelas e lhe transformou, sem apelação possível a uma corte porventura superior, no indivíduo que você é agora, nessa imagem que lhe parece irreal, distorcida, surgida no espelho enquanto você se barbeava tranquilamente.

Eu mesmo tomo cada susto tremendo, quando em vez, ao deparar-me comigo na máquina de formato oval de fabricar imagens pendurada na parede do banheiro aqui em Teófilo Otoni.

Constato o óbvio: as mudanças de idade trazem consigo as indesejáveis mudanças físicas das quais nenhum de nós está a salvo. Todavia, espantar-me logo finda porque envelhecer trata-se de uma doença própria dos vivos, cuja cura só se alcança ao encetarmos aquela temida viagenzinha para a cidade dos pés juntos. Não é mesmo, doutor Walcir?

Lembro-me, nesse justo instante, que já adentrei a contragosto nos meus quase 70 outonos. Isso, num piscar de olhos, me remete aos “Cem Anos de Solidão”, obra-prima de Gabriel García Márquez – com a mítica Macondo se transformando em minha pacata e encantadora Coroaci.

Ainda não cheguei a uma conclusão definitiva, pois é assunto que não me agrada pensar. As respostas virão de qualquer modo, independente de minha vontade. E de nada adianta lutar contra o tempo, submetendo-se a cirurgias plásticas com o doutor Magnaldo, recauchutar a cabeleira. Claro que tais fugidas do envelhecer conseguem melhorar as aparências, porém você permanece com a idade cronológica e suas inevitáveis instabilidades. Lutar contra o tempo é batalha perdida. O sempre vence. E por nocaute.

Aníbal Gonçalves é pedagogo, graduado em Administração Escolar, ex-diretor da Escola Estadual de Coroaci – MG [hoje Dona Sinhaninha Gonçalves] e professor de Filosofia, Sociologia e História da Educação. Foi chefe do Departamento de Educação Cooperativista da CLTO. Atualmente, jornalista e radialista da 98 FM (Teófilo Otoni) e colunista do Jornal Diário Tribuna.

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