Política por vocação: o profissional, o tradicional e o carismático

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Juliana Lemes da Cruz. Doutoranda em Política Social – UFF. Pesquisadora GEPAF/UFVJM. Coordenadora do Projeto MLV. Contato: julianalemes@id.uff.br

Em termos objetivos, sem levar em consideração as ideologias de A ou B, qualquer que seja o grupo político partidário, tende a resumir os eleitores a variadas porções de massas de modelar. Cada parcela admite um ingrediente para ficar no ponto e aderir à receita proposta. Isso significa que percepções, interesses e prioridades norteiam a escolha das massas por um ou outro candidato. O político, por sua vez, diz e compromete-se com a camada que melhor lhe dará retorno. Sabe bem que só poderá deixar grupos insatisfeitos se eles não representarem força política capaz de prejudicar seus votos. Afinal, o que interessa nesse no jogo eleitoral é o voto. Ele sim, mantêm, destitui ou concede poderes.

Para discorrer sobre isso nesse reduzido texto, utilizei argumentos de um autor que buscou conceituar os tipos de dominação política representados por três perfis de político: o tradicional, o profissional e o carismático. Max Weber, um dos propulsores da ciência política, expôs em uma conferência realizada no ano de 1918 na Alemanha, algumas características da política aplicada ao mundo ocidental. O que me chamou atenção neste tema é compreender que passados mais de cem anos, as ideias formuladas por Weber permanecem atuais, o que mostra que são, decerto, atemporais.

O domínio tradicional, como o próprio nome já diz, baseia-se nas tradições, nas posturas do passado. O domínio profissional pauta-se na noção de legalidade, fundamentado na competência. E o domínio pelo carisma sustenta-se a partir de características pessoais do político que se torna uma referência para o eleitor, responsável por um sem número de seguidores da sua figura. Representa um perfil determinante no jogo político, porque é nele que as pessoas depositam a confiança.  Afinal, no Estado Moderno, a submissão e obediência se firmam pelo medo ou pela esperança. Além disso, a qualidade carismática produz líderes, diferente do perfil de político profissional, sem vocação e privado de carisma.

O autor sinalizou duas características atribuíveis aos políticos profissionais que podem ser identificadas em qualquer que seja o território analisado: a) os que vivem da política; e b) os que vivem para a política. Salienta, apesar disso, que um político comprometido vive de política, uma vez que, nem o operário, tampouco, o empresário, teriam o tempo disponível para o que demanda a política. No entanto, este molde gera uma série de problemas, dentre os quais, alimenta expectativas de pessoas que buscam emprego ou querem manter-se em postos de poder indicados pelos políticos eleitos. São profissionais em fazer política, mas, nem tanto, comprometidos com alguma causa ou projeto de sociedade. Weber sintetiza que há dois pecados principais em política: não defender causa alguma e não ter sentido de responsabilidade em suas decisões. 

Assim, não basta a luta ideológica ou propostas dos planos de governo, o campo político, para além disso, significa o controle de uma fatia do Estado para distribuição de empregos. Por isso, Weber explica, que há uma tendência à corrupção e ao apego à máquina pública. Nesse contexto, são crias do sistema dois tipos de funcionários, aqueles de carreira, que conquistaram espaço por competência e os funcionários políticos, que são transitórios. Dentre os citados funcionários, na qualidade de contratados, destacam-se especialistas em política de massas que estão no suporte e subordinados à estratégia determinada pelo chefe político. No Estado moderno são os advogados e jornalistas quem dão suporte ao perfil de político mais comum no ocidente, o demagogo.

O exercício do voto é o único nesse país que coloca em pé de igualdade a força de ricos e pobres. Para lidar com essa realidade, quem se especializa no jogo político sabe bem que para chegarem ao poder, a massa, que é majoritariamente pobre economicamente e/ou simplesmente, pobre culturalmente, precisa ser convencida que seu discurso é o mais representativo. Alia-se a este elemento a adesão dos nomes de prestígio social ou expressão econômica que cercam o candidato, as pautas que este defende e também aquelas que ele opta por silenciar. Afinal, o silêncio também é um discurso.

Nesse molde, o partido político chegou a ser definido pelo autor como uma “empresa de interesses”, distribuidora de cargos, caçadora de recursos e poder. Assim sendo, está repleta de políticos profissionais ao seu dispor. Por outro lado, para a sobrevivência dos partidos políticos é conveniente que existam pessoas que tenham na política, a principal profissão. Nesse sentido, as eleições acabam sendo definidas por critérios econômicos de partidos que investem cada vez mais em políticos profissionais, que se elegem e formam suas bases de poder, legitimando uma ideia de modernidade.

Nesse jogo, vale a venda de sonhos e de esperança, acusações indevidas aos adversários, as desqualificações sistemáticas aos que elucidam estas relações e os sorrisos forçados. Para que a frustração não nos consuma no pós eleição, precisamos reconhecer que a disputa pela representatividade congrega algumas boas intenções que darão certo e outras, que não sairão do papel (WEBER, Max. A Política como Vocação. In: WEBER, Max. Ciência e Política, Duas Vocações. São Paulo: Editora Cultrix, 1996. p. 53-124; Imagem: vectorstock.com).

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