Minhas Palavras

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Aníbal Gonçalves – Pedagogo

Engraçado, por vezes, quando escrevo qualquer coisa, seja um texto, ou uma carta, por exemplo, sou levado, por um juvenil e ingênuo narcisismo, a pensar que palavras escritas não foram feitas para serem arrastadas pelo vento ao cruel apagar do esquecimento. Sim, talvez o meu amor pelas palavras, pelo inexplicável dom (?!) de criar palavras seja romanticamente infinito e assim me tolde e vele, nesses momentos breves de alheamento, o que me reste de razão, como se eu fosse feito só de sentimento.

É como se, depois de uma lenta caminhada pelas ruas de Teófilo Otoni, sem pressa nem destino certo, eu sentasse num banco da praça Tiradentes ou na mesa do bar “A Praça é Nossa” (do Chico e de dona Cida) e pensasse que todas aquelas pessoas a meu redor têm um nome, uma história e uma vida com significado e que seria desprovido de sentido se, quando morressem, fossem absurdamente esquecidas como se nunca houvessem existido.

Assim, tal e qual me sinto com as palavras que escrevo, cujo destino é serem lidas e, mesmo se não forem, apenas permanecessem. As palavras que escrevo é porque não posso deixar de escrevê-las e ao mesmo tempo que me libertam, me escravizam tal e qual a paixão por uma mulher morena, de que somos vítimas e cúmplices, jamais úteis inocentes. Assim são as palavras que escrevo, quer sejam uma mensagem de quem volta ou bilhete de um coroaciense que parte rumo ao desconhecido.

Tenho, em meu computador, uma antiga fotografia de quando eu havia mais de quarenta anos. Era-me num alpendre de uma casa de praia lá em Alcobaça, quase pendurado sobre o mar, curvado à máquina de escrever. Para onde se foram aquelas palavras que escrevi um dia? Para onde foi aquele homem do retrato? Não sei, mas meus sonhos continuam os mesmos, embora outras palavras agora escreva, com a mesma apaixonada necessidade e igual premência.

Eu só sou-me inteiramente eu quando escrevo, seja lá o que for, contanto que as palavras surjam, brotem incessantemente de minhas mãos que para nada mais encontro nelas serventia alguma, as mãos. Eu só me sou quando sou o Verbo encarnado, no modo transitivo, pois ao escrever eu misteriosamente me recrio. Para onde vão as palavras que escrevo? Sonho que não desapareçam.

Aníbal Gonçalves é pedagogo, graduado em Administração Escolar, ex-diretor da Escola Estadual de Coroaci – MG [hoje Dona Sinhaninha Gonçalves] e professor de Filosofia, Sociologia e História da Educação. Foi chefe do Departamento de Educação Cooperativista da CLTO. Atualmente, jornalista e radialista da 98 FM (Teófilo Otoni) e colunista do Jornal Diário Tribuna.

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