Cada homem tem, povoando sua cabeça e seus desejos, um tipo de mulher em especial, que varia de forma e de conteúdo, de acordo com o bom e o mau gosto do freguês e dos recônditos de sua imaginação. Alguns preferem as louras, sejam falsas ou verdadeiras, o que, para eles, carece de maior importância se a áurea cabeleira possui origem natural de fábrica ou artificialmente conseguida. Outros se sentem atraídos irresistivelmente pelas ruivas, que são aves mais raras em nosso meio. Uns se desmancham, caem literalmente de quatro pelas morenas cor de jambo. Há aqueles cuja fogosidade se solta quando se deparam com uma mulata dessas de fechar o comércio de Teófilo Otoni. Muitos babam ao ver uma gordinha simpática, não importa que ela seja uma contumaz inimiga das balanças e da reeducação alimentar para perder uns quilinhos a mais com o conceituado médico endocrinologista Dr. Enos Lorentz.
E eternas viciadas em chocolate, além de frequentadoras assíduas dos rodízios de pizzas e churrascos.
Aliás, tenho um conhecido, que por sinal exerce o fascinante ofício de radialista, cuja libido dispara no momento em que seu olhar bem treinado por anos de experiência se depara com uma fêmea, digamos assim coberta de imperfeições no plano estético. Evito utilizar o malfadado e pejorativo adjetivo feia, porque faz muito tempo que descobri a sua inexistência prática.
Nessa questão de atração física não existe mulher feia, por mais que a sua aparência corporal fuja, desobedeça aos padrões vigentes de beleza em nossa sociedade. Há sempre um cobertor apropriado para cada pé-de-ouvido, não é mesmo meu caro psiquiatra Dr. Walcir Costa?
E, afinal, como reza o batido ditado popular, quem ama a feia, bonita lhe parece.
E esse negócio de ser considerado feio ou bonito, em essência, depende do ponto de vista de cada um de nós, homens e mulheres. Trata-se de uma questão de gosto pessoal e questão de gosto fica fora de qualquer inútil discussão.
Nada mais comum no mundo do que a lei de que os opostos se atraem. Portanto, deixemos de continuar cultivando ultrapassados preconceitos esteticistas, que a nada levam senão à perda do nosso tão precioso tempo.
Quanto a mim, tenho cá as minhas preferências, as quais certamente não devem ser iguais as de todo mundo. Pois eu não sou só eu. Sou eu e as minhas humanas circunstâncias, evidentemente. Fui criado entre mulheres bonitas, principalmente minha saudosa mãe, dona Conceição, que se viva fosse já teria ultrapassado a barreira dos 80 com singular beleza.
Em matéria de mulher bonita, meu desejo é democrático e desconhece o monopólio dos instintos.
Aníbal Gonçalves é pedagogo, graduado em Administração Escolar, ex-diretor da Escola Estadual de Coroaci – MG [hoje Dona Sinhaninha Gonçalves] e professor de Filosofia, Sociologia e História da Educação. Foi chefe do Departamento de Educação Cooperativista da CLTO. Atualmente, jornalista e radialista da 98 FM (Teófilo Otoni) e colunista do Jornal Diário Tribuna.