Rota crítica das mulheres em situação de violência: o drama na busca por ajuda

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Juliana Lemes da Cruz.
Doutoranda em Política Social – UFF.
Pesquisadora GEPAF/UFVJM.
Coordenadora do Projeto MLV.
Contato: julianalemes@id.uff.br

A “rota crítica” envolve o percurso que uma mulher faz para romper o ciclo de violência doméstica. Nesse caminho, ela depara com portas fechadas, falta de apoio, preconceito e revitimização. Esse esforço pode levar bastante tempo, por vezes, anos. Muitas mulheres, ao decidirem pelo rompimento do relacionamento afetivo percorrem várias instituições, buscam apoio de familiares, dos membros de suas respectivas igrejas, vizinhos e/ou de amigos, até que, finalmente, sentem-se livres.

Para qualquer mulher, independente dos marcadores de raça e classe, é extremamente difícil reconhecer que se está em um ciclo violento no âmbito das suas relações intrafamiliares. Por isso, é tão comum que o silêncio impere em espaços que, visivelmente, não são saudáveis aos membros que os compõem. As mulheres mantêm relacionamentos abusivos por vários motivos, dentre os quais: por medo de caminhar sozinha, de ser ridicularizada, de que seus filhos sejam criados sem pai, de que as promessas de agressão e morte se cumpram; por dependência econômica; por dependência emocional; por confundirem amor com controle de seus corpos; ou mesmo, por naturalizar violências que não chegam a lhes machucar fisicamente.

Como se não bastasse as barreiras pessoais enfrentadas diante de situações violentas, as mulheres ainda dependem da sorte para encontrar profissionais qualificados para acolhê-las da forma mais adequada às suas demandas. Embora existam recomendações, orientações e normatizações específicas para a abordagem do fenômeno, estes, nem sempre, são seguidos. Como se sabe, legislações não têm o poder de transformar mentalidades. A forma de atendimento e a não priorização da resolução do problema refletem valores que constituem a estrutura da sociedade. A contestação das posturas que dizem respeito à negação da complexidade da rota crítica para as mulheres em situação de violência ainda é muito recente. Deste modo, encontra certa resistência nos diversos âmbitos da vida cotidiana.

Ainda é comum que as mulheres em flagrante situação de violência encontrem portas fechadas, preconceito, descrédito, insensibilidade e rispidez em locais que deveriam prezar pelo acolhimento e por parte de pessoas que poderiam oferecer a escuta e ajuda, mas, escolhem a omissão. Importa considerar que, quando a mulher decide romper o ciclo violento, ela procura formas de obter êxito nesse objetivo. Têm como norteadores os serviços de saúde, de assistência social e de segurança pública, além das redes sociais compostas por familiares, membros de suas comunidades, iniciativas independentes, grupos de mulheres, organizações não estatais e pessoas da sociedade civil.

Por isso, o apoio e proteção da mulher são de extrema relevância para que ela tenha sucesso no desejo de romper o ciclo de violência. Nessa direção, a pesquisadora Montserrat Sagot (2000), que trouxe à nossa compreensão a noção de “rota crítica”, afirmou que a “violência intrafamiliar é um problema complexo e que requer para a sua solução, políticas e ações coordenadas e intrasetoriais com a participação do Estado e da sociedade civil”. A socióloga, que é de Costa Rica, refere-se à realidade das mulheres diante dos desdobramentos da “rota crítica” em estudos de caso que se referem a dez países da América Latina.

Referências:

Sagot, Montserrat. Ruta critica de las mujeres afectadas por la violência intrafamiliar em América Latina. Whashington, D.C; Organización Panamericana de la Salud; 2000. 181p. Disponível em: http://bases.bireme.br/cgi-bin/wxislind.exe/iah/online/?IsisScript=iah/iah.xis&src=google&base=LILACS&lang=p&nextAction=lnk&exprSearch=381142&indexSearch=ID ).

Arboit J, Padoin SMM, Paula CC. Critical path of women in situation of violence: an integrative literature review. Rev Bras Enferm. 2019;72. (Suppl 3):321-32. Doi: http://dx.doi.org/10.1590/0034-7167-2018-0265 . (Imagem).

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