Casal conectado – parte 2: O ônus e o bônus de expor relação com uma “sub celebridade”

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Juliana Lemes da Cruz.
Doutoranda em Política Social – UFF.
Pesquisadora GEPAF/UFVJM.
Coordenadora do Projeto MLV.
Contato: julianalemes@id.uff.br

A fama bateu à porta do gari após a repercussão de um vídeo em uma rede social. Seu trabalho noturno, no centro da capital mineira, era badalado. Admiradores o abordaram para registrar fotografias. Eram mulheres, homens, crianças e famílias inteiras.

Morador de um aglomerado urbano de Belo Horizonte, Tales, o “Gari Gato”, passou a mostrar sua rotina de tarefas domésticas em pequenos vídeos que postava nas redes sociais. Sua vida pessoal estava exposta de forma bastante clara: uma vida simples, de disciplina alimentar e amor à profissão. Tales disse ter feito esforço para ser admitido na empresa de coleta porque admirava a alegria com que os garis trabalhavam enquanto coletava o lixo nas proximidades do supermercado em que trabalhava à época.

Certo é, que a fama tem sido uma experiência desafiante para Tales e sua companheira. Por um lado, o ônus, especialmente carregado por Josy, que recebe críticas ofensivas por parte de algumas seguidoras do Gari Gato. Por outro, o bônus de tornarem-se referências como casal que deixou diferenças de lado para assumir viver um amor que os surpreendeu. Tales e Josy são admirados nas redes pela naturalidade que expõem suas realidades. O gari que, em um belo dia se tornou influencer com cerca de 3 milhões de seguidores em suas redes, nos últimos 2 anos manteve seu destaque em razão da simplicidade e espontaneidade com os quais conquistou público de todos os cantos do Brasil.

Como fiel seguidora do Gari Gato, recordo-me de um vídeo curto que o casal gravou com uma influencer-personal trainer, onde a Josy simulava que estaria com ciúmes do Tales. Foi o bastante para que seguidoras a criticassem pela brincadeira, lançando ofensas que se relacionavam à sua condição de policial. A postagem, que levou o nome de “quando a fã começa se empolgar”, rendeu mais de 4 milhões e meio de visualizações e cerca de 4 mil comentários, só no Instagram. Em resumo, uma minoria, confundiu tudo. Misturou-se a relação de poder que ela exerce em razão de sua profissão com a situação simulada entre o casal e uma amiga. Era para ser divertido, e para a maioria, realmente foi. O comportamento de algumas mulheres nada mais é que o flagrante reflexo do machismo estrutural. Sim! Mulheres também reproduzem atitudes extremamente machistas, de desrespeito e pré-julgamentos a outras mulheres, como um esforço à ideia naturalizada da competição feminina.

Outra questão lembrada foi a diferença de idade entre o casal. No caso dos homens, não parece ser um problema se ele tem mais idade, mas, no caso das mulheres, ser mais velha que o parceiro parece um defeito. Josy, que é 6 anos mais velha que Tales, ainda recebe muitos ataques nas redes, embora tenha aprendido a lidar com eles. “Não fui com a cara dela”; “Ela é mais velha que ele?”; “Poderia ter achado uma mais bonita”… são alguns dos comentários. Para qualquer mulher, contornar situações assim, exige que ela saiba muito bem quem é e o lugar que ocupa para não deixar que ninguém diga onde ela deve estar. Mulher com autoestima balançada, não segura o rojão. Por isso, é tão importante a busca pelo autoconhecimento e independência econômica e emocional.

Josy, ao responder algumas mensagens, ressaltou o quanto nós, mulheres, normalizamos o assédio quando ele é feito por mulheres a homens, ao passo que repudiamos quando homens nos assediam. Assim como o assédio incomoda as mulheres, também incomoda os homens. “Tales é uma figura pública, não um patrimônio público”, reclamou Josy, que não considera os ciúmes um problema em potencial, mas, sim, o desrespeito das formas de assédio.

Outras postagens também geraram polêmica e um alerta para o quanto pode ser perigoso a exposição nas redes sociais. Além das críticas à Josy, que pode não ter sido abordada de outra forma por ser uma policial, a filha do Tales, de 15 anos, começou a ser assediada nas redes. Motivo pelo qual, Tales decidiu preservá-la da exposição ao público. O casal partilha, abertamente, seus momentos em família, tendo reunido, inclusive, seus filhos em uma recente viagem ao litoral baiano. Josy tem dois filhos, Kaio (20) e Arthur (17). Tales tem duas filhas, Júlia (15) e Isabela (8). Fred, o cãozinho, também faz parte da família.

Como bônus, o casal recebe o respeito, admiração e carinho de muita gente que torce por eles. Têm potencial para exercer influência positiva em linguagem acessível a pessoas de gêneros e idades variadas, expondo para o debate, temáticas caras à sociedade, a exemplo da violência doméstica contra as mulheres – chegamos a fazer uma live sobre isso –, e saneamento básico. Têm portas abertas em espaços que antes não tinham e veem outras possibilidades de renda em virtude de distintas propostas de trabalho.

Entre o ônus da exposição que invade a privacidade do casal e o bônus, que oferece novas oportunidades, encontra-se uma história em comum cheia de momentos inesquecíveis que vem sendo marcada pela rapidez com que as coisas têm acontecido. Os seguidores e fãs são os grandes propulsores do sucesso do companheiro da policial: o gari. Pessoa de origem humilde que, da noite para o dia, se descobriu modelo e influencer, desafiada a alçar novos voos. Na próxima parte, a administração da fama de uma “sub celebridade” e as exposições do casal na grande mídia.

Para conhecer melhor, siga @garigatobh e @josylima01

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