
Delegado Geral de Polícia – Aposentado. Prof. de Direito Penal e Processo Penal. Mestre em Ciência das Religiões pela Faculdade Unida de Vitória/ES. Especialização em Combate à corrupção, antiterrorismo e combate ao crime organizado pela Universidade de Salamanca – Espanha. Advogado. Autor de livros
RESUMO: Este artigo propõe uma leitura crítica, poética e filosófica da música “Quem Dá Mais”, interpretada por Antônio Marcos em 1977. A partir de uma análise simbólica da obra, questiona-se a derrocada dos valores éticos, morais e humanos, culminando na tese metafórica de que o mundo, como expressão de humanidade e sensibilidade, teria acabado em 1996. O texto discorre sobre a falência do amor, a falência espiritual, o colapso social e a morte simbólica do Brasil diante da modernidade líquida, do narcisismo digital e da desigualdade que devasta vidas e corações.
Palavras-chave: Antônio Marcos; decadência moral; sociedade líquida; crítica poética; valores humanos; Brasil; modernidade.
INTRODUÇÃO
Em cada época, uma voz se ergue para anunciar o fim – não o fim físico das coisas, mas o fim de sua essência. Em 1977, Antônio Marcos, poeta-cantor das multidões, nos ofertou uma das obras mais simbólicas de sua trajetória: “Quem Dá Mais”, composição de José Roberto Monteiro Surian. Com a sensibilidade de um profeta, Marcos não cantava apenas um leilão existencial; ele pressentia o colapso silencioso da humanidade.
Na canção, o cantor sonha com o ano de 1996. Queria ver como seriam as coisas por lá. Queria, talvez, confirmar se ainda haveria espaço para o amor, para a fé, para o homem que ousa crer em Deus. A música já denunciava o nascimento de uma sociedade onde os valores humanos seriam postos à venda, negociados como quinquilharias em feiras de almas. Não à toa, o mundo acabou — e foi exatamente em 1996.
DA FUNDAMENTAÇÃO JURÍDICA E SOCIAL
O presente texto reveste-se de profunda relevância jurídica e social, ao passo que denuncia, com pungente gravidade, a derrocada dos valores morais, o fuzilamento do sistema jurídico, a falência dos atributos essenciais da condição humana e a destituição do arcabouço legislativo. Tudo começou no funesto ano de 1996, quando se deu o grande arrebatamento: os homens bons foram tragados pela força do invisível, levando consigo os últimos vestígios de honra, coragem e retidão. A partir dali, instaurou-se uma dinâmica social perversa que assassinou os princípios da lealdade e da fraternidade, deixando neste plano terreno apenas um amontoado de molambos humanos — espectros da dignidade, náufragos da moral, destroços de uma civilização que já não sabe mais amar nem julgar com justiça.
ANÁLISE CRÍTICA: A MORTE LENTA DA HUMANIDADE
A letra de Quem Dá Mais não é apenas canção; é testamento. A voz de Antônio Marcos, rouca e profética, ecoa pelos corredores da consciência coletiva. Ele se oferece em leilão:
“Quem dá mais por um homem que ainda crê no amor?” O silêncio responde.
Ele vê um tempo em que o computador será deus, a fé será piada, e a verdade, um artefato obsoleto. Ele anuncia, sem saber, a era da liquidez moral, da verdade fragmentada, da realidade simulada. Marcos quer viver 1996, mas morre em 1992 — como se a alma cansada pressentisse o colapso iminente.
O Brasil de hoje é o cadáver desse vaticínio. Um país devastado por abutres em paletós caros, um país onde a empatia é zombada e a maldade é algoritmo. Os bons foram arrebatados em 1996 — ou, ao menos, começaram a desaparecer de nossos olhos. O que restou foi um entulho humano, gente perdida entre selfies e mentiras, corações de pedra, estômagos vazios.
Em cada esquina, o ódio sussurra. A justiça cega tropeça em suas próprias leis. O amor é um mito infantil. A fé, um produto em marketplace. O Brasil virou cemitério de si mesmo, onde políticos plantam cadáveres e colhem votos. Onde a criança chora de fome e o rico posta champanhe.
CONCLUSÃO: O BRASIL MORREU EM 1996
O mundo acabou em 1996 — não com bombas, mas com cliques. O Brasil morreu com ele. Restou-nos um teatro de zumbis sociais, fingindo vida, encenando bondade. Restou-nos uma sociedade ferida por suas próprias escolhas: racismo institucional, violência gratuita, injustiça sistemática, hipocrisia vestida de virtude.
O Brasil que sonhava, o Brasil de Antônio Marcos, morreu — e foi sepultado sem hino, sem luto, sem memória. Agora, somos apenas 200 milhões de sobreviventes dentro de um ataúde continental. Restará apenas cavar uma cova rasa e, com as últimas forças, jogar a pá de terra sobre o que um dia foi pátria, esperança e lar.
O mundo acabou em 1996, e o Brasil tombou com ele —não com o estrondo das bombas, mas com o silêncio das consciências caladas. As pessoas de alma boa foram levadas pelo vento sagrado, num arrebatamento que só os puros perceberam.
Ficamos nós — tristes centelhas, fósforos apagados no breu da era moderna.
Restou a terra à mercê dos abutres. Eles vieram em ternos alinhados, perfume importado cobrindo o hálito pútrido. Vieram como juízes, pastores, ministros e influenciadores. Vieram vender a alma em troca de cliques e aplausos de plástico.
E nós? Nós andamos entre sarjetas e feed’s digitais, perdidos entre selfies e sentenças. Choramos na fila do hospital, dormimos com fome e acordamos com medo.
O pão se fez privilégio. A justiça se fez cega — e surda, e muda. Brasil, ó pátria de mil promessas abortadas, tu foste enterrada em vala comum, com tua bandeira manchada de sangue e indiferença. Nem sequer houve missa de sétimo dia.
O amor virou artigo raro, a fé virou escárnio, a compaixão virou fraqueza.
E os bons? Os bons foram embora. Viraram estrelas distantes, acenos suaves num céu que já não olhamos.
Que herança deixaremos? O eco de um país que vendeu sua alma ao vil metal, onde a beleza foi trocada por curtidas, a ternura, por sarcasmo, a vida, por lucro.
Mas ainda há um resto de esperança — não nos palácios, não nas câmaras, mas nos olhos de uma criança que, mesmo com fome, ainda sorri.
Há poesia em resistir. Há santidade em continuar amando neste deserto.
O mundo acabou em 1996. O que nos resta é cantar sua memória, sepultar a vergonha com versos, e talhar, na lápide do Brasil, a última oração de um povo que ainda sonha, mesmo entre escombros:
“Aqui jaz um país que ousou amar.
Matamos seu corpo.
Mas sua alma — essa ninguém pôde calar.”
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BAUMAN, Zygmunt. Modernidade Líquida. Rio de Janeiro: Zahar, 2001.
BOBBIO, Norberto. A Era dos Direitos. Rio de Janeiro: Campus, 1992.
BRASIL. O presente texto passou por ajustes estruturais e terminológicos para fins de adequação técnica e argumentativa. Fonte: ChatGPT. Acesso em 04 de junho de 2025;
MARCOS, Antônio. Quem Dá Mais. Composição de José Roberto Monteiro Surian. 1977. Trilha sonora da novela “O Profeta”, TV Tupi.
KING, Martin Luther. Where Do We Go from Here: Chaos or Community? Boston: Beacon Press, 1967.
SARAMAGO, José. Ensaio sobre a Cegueira. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.