
Doutora em Política Social (UFF).
Presidente do Conselho do Fórum Brasileiro de Segurança Pública.
Contato: lemes.jlc@gmail.com | @julianalemesoficial
Com a publicação do Anuário Brasileiro de Segurança Pública 2025, o município de Teófilo Otoni ganhou destaque por aparecer entre os 20 municípios mais violentos do país em 2024, em uma matéria veiculada por um portal de repercussão nacional. A situação gerou a busca por explicação sobre o que teria acontecido, já que a notícia não parecia representar a realidade do município.

Na condição de atual presidente do Conselho do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), organização responsável pela publicação do Anuário, procurei desvendar o enigma e esclarecer o que havia acontecido mediante contato direto na fonte. O devido esclarecimento partiu da coordenação do Núcleo de Dados da instituição e em seguida, por meio de nota da sua Assessoria de Comunicação.

Conforme mencionado na nota de esclarecimento “a aparição de Teófilo Otoni (MG) no ranking de cidades com maior número de vítimas de violência letal no Anuário Brasileiro de Segurança Pública 2025 se deu por conta de um acidente grave com um ônibus, que resultou na morte de 39 pessoas em dezembro de 2024. […] de acordo com os dados coletados pelo Anuário […] praticamente metade das mortes violentas intencionais atribuídas à cidade decorre desse acidente específico, e não de uma escalada da criminalidade local. Importante destacar que os dados do Anuário Brasileiro de Segurança Pública são coletados junto às secretarias estaduais de segurança pública, a partir de pedidos via Lei de Acesso à Informação, e têm como base boletins de ocorrência (BOs). No caso específico de Teófilo Otoni, as mortes no acidente foram registradas como homicídio qualificado, o que levou a cidade a aparecer entre as 20 mais violentas do país”.
O FBSP ainda reforça que a metodologia empregada no Anuário […] reflete fielmente os dados oficiais fornecidos pelos entes estaduais e que variações pontuais — como a registrada em Teófilo Otoni — podem ocorrer em decorrência de eventos isolados”. Desse modo, vale considerar os limites do avanço da “notícia” à categoria de “informação qualificada” e o quanto custa a falta de investimento em análise e certificação do que se pretende dar ênfase. Sob pena da desqualificação da informação e descredibilização da parte que divulga, tivemos o mais nítido dos exemplos com o presente episódio.
Se a notícia responde, tão somente, ao imediatismo das redes sociais e canais de comunicação, corre-se o risco de não se dar a devida atenção à origem do dado ou à metodologia empregada. Conhecendo-se a origem, se conhece também os possíveis desdobramentos até a chegada ao destinatário final – ouvinte, leitor, telespectador, seguidor. No caso de Teófilo Otoni, apesar da guerra entre facções que assustou a população e exigiu esforço redobrado das forças policiais em 2024, aquela realidade não seria capaz de elevar o município ao nível de destaque nacional. Assim, a exposição das taxas de homicídio por 100 mil habitantes vista a olho nu e inicialmente, sem nota explicativa sobre o fenômeno ocorrido no município mineiro, deixou o dado sujeito a interpretações que não condizem com a realidade.
Difundida por um segmento de comunicação mais amplo, ocorreram, rapidamente, inúmeras reproduções de conteúdo alardeando Teófilo Otoni como único município mineiro a aparecer no ranking nacional de forma escandalosamente negativa. Como reflexo, parte da população posicionou-se nas redes sociais como incrédula, e parte, assustada. O assunto tomou o destaque das discussões populares desde a última quinta-feira, 24 de julho, mas, finalmente foi esclarecido. O que se espera é que o contexto de crise gerado por essa aparição atípica do município em cenário nacional de forma tão negativa, sirva de lição para que busquemos, com serenidade, aprender a distinguir notícia, de informação qualificada.










