Segurança Pública em Xeque: Quando os Palanques Calam as Ruas

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Por Jeferson Botelho
Delegado Geral de Polícia – Aposentado. Prof. de Direito Penal e Processo Penal. Mestre em Ciência das Religiões pela Faculdade Unida de Vitória/ES. Especialização em Combate à corrupção, antiterrorismo e combate ao crime organizado pela Universidade de Salamanca – Espanha. Advogado. Autor de livros

RESUMO: Este texto reflete, com fidelidade e reverência, o pleno exercício da liberdade de expressão, alicerçado tanto na legislação interna quanto nos tratados internacionais. Fundamenta-se no artigo 5º, inciso IV, da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, em harmonia com o artigo 13 da Convenção Americana sobre Direitos Humanos — o Pacto de San José da Costa Rica — ratificado pelo Brasil por meio do Decreto nº 678, de 1992. Soma-se a isso a perfeita consonância com a Primeira Emenda à Constituição dos Estados Unidos da América, promulgada em 15 de dezembro de 1791, como parte da célebre Carta de Direitos. Tudo se dá sob o manto inviolável da imunidade de cátedra, assegurando ao pensamento crítico, à ciência e à docência a liberdade necessária para iluminar consciências e transformar sociedades. Nessa toda, o presente artigo apresenta uma crítica contundente à superficialidade dos discursos sobre segurança pública no Brasil, denunciando a ausência de técnicos com experiência real nos cargos de comando. Analisa a distância entre os chamados “especialistas midiáticos” e a realidade vivida por policiais, vítimas e comunidades. Defende que segurança pública é dever do Estado e direito de todos, mas que a solução passa pela escuta dos verdadeiros protagonistas da segurança cotidiana.

Palavras-chave: segurança pública, especialistas, policiamento, políticas públicas, vítimas, Constituição Federal de 1988.

INTRODUÇÃO

A segurança pública no Brasil tornou-se palco de espetáculos retóricos, onde discursos bem ensaiados ecoam em entrevistas de gabinete, mas não chegam às vielas, becos e estradas esburacadas do país real. Em vez de técnicos, o que se vê à frente de muitos órgãos são políticos, indicados por conveniências partidárias, com pouca ou nenhuma vivência nas trincheiras da segurança.

Enquanto isso, o policial investigativo que não pode usar farda, a mãe que perdeu um filho para a criminalidade, o soldado, o cabo e sargento que sobem o morro, seguem invisíveis no debate técnico. O criminoso do asfalto e dos gabinetes continua intocável. Quando os livros são apenas decoração de fundo e não instrumentos de transformação, a política de segurança vira espetáculo, não solução.

ANÁLISE TÉCNICA DO TEMA:

A Constituição Federal de 1988, em seu artigo 144, afirma de forma inequívoca: “A segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de todos, é exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio.” No entanto, a realidade cotidiana nos mostra uma grave distorção entre o que está na letra da lei e o que se pratica na estrutura do Estado brasileiro.

A ausência de critérios técnicos para nomeações em órgãos de segurança pública resulta em políticas ineficazes, descoladas da realidade vivida por policiais e pela população. Em muitos casos, os gestores dessas pastas são figuras alheias ao campo da segurança, mas escolhidas por interesses político-partidários. Como consequência, temos medidas populistas, midiáticas e muitas vezes perigosamente desconectadas das necessidades reais de enfrentamento ao crime organizado, ao tráfico de drogas, à violência doméstica e aos crimes patrimoniais.

Por outro lado, os verdadeiros especialistas raramente têm voz. São os sargentos que, com salários defasados, enfrentam o crime de peito aberto. São os investigadores anônimos que, por segurança, não vestem farda. São os familiares das vítimas que vivem a dor que nenhum discurso de gabinete pode consolar. E são também os “trancas” — agentes que vivem a crueza da criminalidade nas ruas, longe dos palcos iluminados dos estúdios de televisão.

DESENVOLVIMENTO COM ÊNFASE NA FALTA DE TÉCNICOS NOS ÓRGÃOS PÚBLICOS DE SEGURANÇA:

A inversão de prioridades na gestão da segurança pública é notória. Em vez de valorizar a experiência prática, o conhecimento técnico e a formação continuada dos profissionais da área, o que se observa é a ascensão de figuras decorativas — muitas vezes com currículo forjado à base de aparições na mídia ou de títulos acadêmicos que não resistem ao teste da vivência.

Não se pode aceitar que livros sirvam apenas como cenário para entrevistas em ambientes climatizados, com frases feitas e soluções genéricas. A segurança pública não é um campo para teóricos distantes da realidade, mas sim para homens e mulheres que conhecem os códigos do crime, o silêncio das vítimas e o grito desesperado das periferias.

É preciso romper com esse modelo falacioso. Investir na formação e na escuta dos policiais da base, nos peritos, nos delegados de carreira e nos guardas municipais que enfrentam o caos diário da violência urbana. Somente com base técnica, diagnósticos reais e ações integradas será possível construir políticas públicas eficazes.

CONCLUSÃO

A segurança pública brasileira clama por respeito, técnica e compromisso. Chega de soluções cosméticas. Chega de especialistas de estúdio. O povo brasileiro não quer mais discursos: quer paz, justiça e efetividade. A verdadeira reforma da segurança começa pela valorização de quem vive o problema na pele — e não por quem só o enxerga através das lentes de uma câmera.

Ninguém se torna mestre da existência apenas por decorar fórmulas em salas de aula abafadas pela arrogância. A verdadeira especialidade nasce da alma calejada, da lágrima silenciosa que escorre quando ninguém vê, da dor que molda caráter, da queda que ensina a levantar com mais firmeza. O saber legítimo não habita apenas nas bibliotecas empoeiradas — ele grita nos becos escuros, chora nas delegacias, sangra nos quartéis e sussurra no coração dos que já perderam tudo, menos a coragem.

É no calor do sofrimento que o espírito é temperado com aço. A vida, este campo de batalha invisível, é a escola dos verdadeiros especialistas. Não há tese que substitua o luto de uma mãe; não há tratado que compreenda o silêncio de um policial infiltrado; não há ideologia que explique a dor de um povo refém da violência.

E quem nunca amou e perdeu, jamais saberá cantar a música da alma ferida. Quem nunca sofreu na carne o abandono, o desprezo, o descaso — jamais compreenderá a urgência do clamor popular por segurança e dignidade.

Por isso, que se calem os teóricos de gabinete, os narcisistas potencializados, os vendedores de sonhos, os tatuados da loucura, os midiáticos de ocasião, quando falarem dos dramas que não viveram. Que as vozes da rua, da dor e da luta subam ao púlpito das decisões. Porque só os forjados no fogo do real conhecem o caminho da cura.

E nesse teatro trágico da vida, que vença a sabedoria dos que choraram — e não a soberba dos que apenas falaram.

Portanto, segurança pública não é fruto de retóricas vazias, de “ólogos” de ocasião, de curiosos disfarçados de especialistas ou de fanáticos que se alimentam do aplauso fácil. Não se constrói a paz social com vendedores de ilusões, com narcisistas travestidos de heróis ou com falsos peritos que confundem experiência com encenação. A verdadeira segurança pública exige gestores comprometidos com o exercício legítimo e responsável do poder de polícia, sustentados por ética inquebrantável e genuína responsabilidade social.

Ela se ergue sobre a aplicação efetiva das leis, sobre uma visão que privilegie a proteção da sociedade e sobre investimentos equitativos entre todas as agências de segurança. Ela floresce quando se abandona a vaidade institucional, substituindo a disputa de egos pela construção coletiva da paz. Ela se consolida quando os recursos chegam aos profissionais de verdade — aqueles que, nas ruas e nas fronteiras, na árdua segurança dos presídios, em atividade nos centros de internação de adolescentes em conflito com alei, nas delegacias e nos quartéis, arriscam a própria vida para defender a do próximo.

O romantismo penal não protege lares, não impede o avanço da criminalidade, não honra o sangue derramado pelos que tombaram em serviço. Só a união entre lei, técnica, coragem e integridade será capaz de forjar o escudo que a sociedade brasileira tanto clama. Segurança pública é mais que um dever do Estado — é um pacto inegociável com a vida, com a liberdade e com o futuro da Nação.

E que reste gravado no coração de cada brasileiro este juramento: enquanto houver um inocente a proteger, um criminoso a deter e um sonho de paz a manter vivo, não nos curvaremos ao medo, não nos renderemos à violência e não deixaremos que a esperança seja algemada. Pois a segurança do povo é a fortaleza da Pátria, e a Pátria, quando protegida, jamais será vencida.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Art. 144. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em: ago. 2025.

CANO, Ignacio. Letalidade policial: desafios da segurança pública. Rio de Janeiro: CESeC, 2015.

CARRANCIO, Edson. Segurança Pública e Democracia: uma abordagem crítica. São Paulo: Saraiva, 2020.

SOARES, Luiz Eduardo. Elite da Tropa. Rio de Janeiro: Objetiva, 2006.

SOUZA, Jessé. A Elite do Atraso. São Paulo: Leya, 2017.

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